O que seria um casal perfeito? Ou ainda, existe o casal perfeito?
No filme Juno, ganhador do Oscar de melhor roteiro original em 2007, acompanhamos uma adolescente em busca de um casal que poderá ficar com seu bebê, fruto de uma gravidez não planejada. Juno descobre nos anúncios de um jornal o casal “perfeito”. Não para ela, é claro, que na visita ao casal desconfia da casa clean, da simetria obsessiva dos objetos dispostos e tem um olhar crítico para as fotos do casal expostas ao longo da escada, sempre com o mesmo fundo, mudando apenas os sorrisos e levemente as posturas por meio da disposição dos abraços. A jovem vai “bisbilhotar” o banheiro e ao sair descobre um quarto que destoa da casa. O quarto “cedido” ao marido para que ele guarde algumas de suas coisas que destoam com o restante do ambiente e que representam sonhos abandonados que não cabem na relação do casal. Começamos a descobrir com Juno que ali não há mais um casal.
Um casal deixa de existir quando um abre mão de parte de si, quando um não acompanha o outro em seus sonhos e até mesmo devaneios. Um casal deixa de existir quando não há mais um projeto em comum.
O que forma um casal?
Admiração, respeito, afinidades e desejo. A ordem não importa, mas são ingredientes essenciais. Sem desejo predomina a amizade. Sem admiração faltará um olhar apaixonante que soma-se ao desejo. Sem algumas afinidades a possibilidade de troca fica restrita e no limite não há possibilidade de compreensão. Sem cuidado recíproco, não há relação, mas dor e ressentimento. Mas é necessário ainda mais, é necessário respeito pelas diferenças e pela singularidades. Sabemos que a compreensão de todo não é possível entre um casal devido as diferenças próprias entre duas pessoas, porém faz-se suficiente apenas aceitar e acolher essas diferenças . A aceitação mútua das diferenças possibilita a convivência.
Quando jovens, tendemos supervalorizar fazer tudo juntos, tendemos a ser mais inseguros. Na maturidade, não sentimos mais a necessidade de compartilhar todos os espaços, ao contrário, queremos um espaço reservado para nós. O respeito a individualidade se faz premente. Concluindo: afinidades são fundamentais, um projeto de vida em comum, respeito, reciprocidade no cuidados e, parafraseando Roberto Freire, “sem tesão não há solução”. Parece difícil? Quem disse que a vida é fácil? E se relacionar dá trabalho sim. Mas traz inúmeras recompensas. Na contemporaneidade, quando a descartabilidade nas relações se intensifica, o culto ao individualismo se acentua, e vem seguido da consequente falta de ética nas relações humanas, o amor parece na contramão, como um movimento anticultural. Mas se é esse modelo que desejas, busque, siga em frente. Sabemos que se muitos ainda buscam um relacionamento, não é por acaso. Afinal iniciamos a vida a partir do olhar de um outro e através da possibilidade das primeiras relações com nossos cuidadores. Nosso psiquismo se constitui a partir deste amor dos primórdios e assim aprendemos o amor e a amar.
Ana Amorim de Farias, 2009
Psicóloga e Psicanalista