Conhece-te a ti mesmo!

“O que
mais me impressiona em Freud, aquilo em sua obra que me remete a mim mesmo e que,
portanto, assim transmite à obra sua atualidade viva, não é a teoria dele,
embora eu lhes vá falar sobre isso, nem tampouco seu método, que aplico em
minha prática. Não. O que me encanta quando leio Freud, quando penso nele e lhe
dou vida, é sua força,sua loucura, sua força louca e genial de querer captar no
outro as causas de seus atos, de querer descobrir a fonte que anima um ser. Sem
dúvida, Freud é, antes de mais nada, uma vontade, um desejo ferrenho de saber;
mas sua genialidade está em outro lugar. A genialidade é uma coisa diferente do
querer ou do desejo. A genialidade de Freud está em ele haver compreendido que,
para apreender as causas secretas que movem um ser, que movem esse outro que
sofre e a quem escutamos, é preciso, primeiro e acima de tudo, descobrir essas
causas em si mesmo, refazer em si — enquanto se mantém o contato com o outro
que está diante de nós — o caminho que vai de nossos próprios atos a suas
causas. A genialidade não reside, pois, no desejo de desvendar um enigma, mas
em emprestar o próprio eu a esse desejo; em fazer de nosso eu o instrumento
capaz de se aproximar da origem velada do sofrimento daquele que fala. A
vontade de descobrir, tão tenaz em Freud, conjugada com essa modéstia
excepcional de comprometer seu eu para consegui-lo, isso é o que mais admiro, e
do que jamais lhes poderei prestar contas plenamente através de palavras e conceitos.
A genialidade freudiana não se explica nem se transmite e, no entanto, não pode
persistir como uma
graça
inaudita do fundador. Não, a genialidade freudiana é o salto que todo analista
é conclamado a realizar em si mesmo, todas as vezes que escuta verdadeiramente
seu analisando.”

(J.-D. Nasio. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan . Rio de Janeiro: Zahar.1995. p. 15)

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

Compartilhe

Facebook
WhatsApp
E-mail