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narcisismo, ontem e hoje …………………………………………… 9
I. TEORIA DO
NARCISISMO………………………………………………… 31
1. Um, outro, neutro: valores narcisistas do mesmo ………………… 33
2. O narcisismo primário: estrutura ou estado?……………………….. 87
3. A angústia e o
narcisismo………………………………………………. 143
II. FORMAS NARCISISTAS
…………………………………………………… 187
4. O narcisismo
moral…………………………………………………………. 189
5. O gênero
neutro……………………………………………………………. 223
6. A mãe morta…………………………………………………………………..
239
Posfácio: O Eu, mortal-imortal ………………………………………………..
275
André Green vem se destacando como um dos teóricos mais
importantes do pensamento psicanalítico. Na década de 1970, sua polêmica com o
pensamento de Lacan levou-o a escrever O discurso vivo – uma teoria
psicanalítica do afeto, etapa importante do percurso de suas reflexões. Aí,
apesar de reconhecer os méritos de Lacan e a influência deste em seu
pensamento, ressalta que considerar o inconsciente estruturado como uma
linguagem era uma mutilação do percurso freudiano pela exclusão da questão do
afeto.
constrói: aponta de saída suas questões, deixando-as formarem um vivo e
consistente desenho tanto no campo clínico como no teórico. Costuma convocar
vários autores sobre os temas que trabalha, apontando tanto os pontos de
contato como as diferenças. Assim, no rastro de um pensamento que vai buscando
se constituir como próprio no contato com outros pensamentos, temos a
satisfação de poder conhecer a rica bibliografia de que se serve através de
pequenas sínteses e indicações. Não dispensa também a exegese da obra de Freud,
trazendo sempre os meandros e as ambiguidades do pensamento deste que considera
ainda o mais rigoroso e coerente de todos os autores psicanalistas.
artigos de 1976 a 1982 sobre a questão do narcisismo. Esse conceito surgiu no
âmbito psicanalítico em Para introduzir o narcisismo, escrito por Freud em
1914. Após um vacilante e rico percurso, Freud deixa-o de lado quando formula,
por volta de 1920, sua segunda teoria pulsional, que postula as pulsões de vida
e as pulsões de morte como as forças conflitantes na vida psíquica.
Ele diz “haver uma articulação necessária entre o narcisismo e a pulsão de
morte da qual Freud não se ocupou e que ele nos deixou para descobrir” (p. 14).
Os artigos reunidos têm por objetivo pensar essas relações, conforme expõe no
longo prefácio no qual faz uma espécie de alinhavo histórico-conceitual das
problemáticas em torno do narcisismo e que é seguido de duas partes, uma sobre
teoria e outra sobre formas narcísicas, além de um posfácio. Green propõe
chamar a pulsão de morte de narcisismo negativo, duplo sombrio do eu unitário
do narcisismo positivo, de modo que todo o investimento de objeto, assim como
do eu, implicam seu duplo invertido que visa a um retorno regressivo ao ponto
zero, que se manifesta clinicamente pelo vazio. É pela complexidade dos
problemas da clínica que o lugar que ocupa o narcisismo se revela dos mais
importantes e faz Green distinguir suas relações com diferentes formas
clínicas. Mas é sobre os chamados casos limites que sua atenção se focaliza, ao
pensar o limite como conceito e não apenas da maneira empírica que os situa nas
fronteiras da psicose.
concepção nodal de seu pensamento que a bela capa do livro (da artista Ivoty
Macambira) exprime de maneira muito feliz: o complexo de Édipo deve ser mantido
como matriz simbólica essencial à qual é importante sempre se referir como uma
triangulação axiomática, mesmo nos casos clínicos em que a regressão é dita
pré-genital ou pré-edipiana, portanto, aquém da triangulação (p. 252). No
entanto, é se voltando para a questão da angústia que Green propõe uma
concepção estrutural organizada em torno de dois centros paradigmáticos
diferentes. Por um lado, a angústia de castração, por privilegiar sua evocação
no contexto de uma ferida corporal associada a um ato sangrento. Em
contrapartida, quando se trata do conceito da perda do seio ou do objeto, das
ameaças de abandono à perda da proteção do Supereu, a destrutividade ganha as
cores do luto: preto como a depressão grave ou branco como os estados de vazio
(p. 251).
bem o esforço do autor de descrever as tensões de um eu preso às malhas da
lógica tecida pelo “Um, Outro e Neutro, valores narcisistas do
mesmo”, título de um dos capítulos. Mas se o psicanalista se vê, no seu
ofício, às voltas com a angústia e a morte, não é em nome delas mesmas, e sim
da vida. O opaco de narcisismo de vida na capa aponta que, se bem Green esboce
no final a necessidade de que as sociedades devolvam a Eros alguns direitos de
que foi espoliado, permanece ainda a necessidade de pensar o narcisismo de
vida, campo das sublimações e de Eros, como o campo da singularidade às voltas
com o múltiplo, sem por isso desintegrar-se ou fragmentar-se psicoticamente.
Quem sabe, assim, a multiplicidade que sustenta o feminino não corra o risco de
se transformar em uma visão assustadora ou em uma nova incógnita metafísica e
possa expressar-se na carne do mundo.
Departamento de Psicanalise do Instituto Sedes Sapientiae, doutora pelo
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo. Professora dos cursos de especialização de
Psicopatologia e Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo e Teoria Psicanalítica da Pontifíca Universidade Católica de São
Paulo. Autora dos livrosCena Incestuosa e Paranóia, da coleção
Clínica Psicanlítica da Editora Casa do Psicólogo.