Nosso corpo precisa de uma rotina, horários para comer, dormir, trabalhar, lazer. Notem que quando dormimos menos ou acordamos em intervalos intercalados durante a noite, no dia seguinte sentimos a diferença, mas que pode ser recuperada. Se dormimos mal por dias seguidos, nosso corpo e mente ficarão cansados, começaremos a ficar lentos ou irritadiços
O que somos, almejamos, projetamos no mundo. De tal forma, que podemos afirmar que estendemos nosso mundo interior pelo nosso ambiente de trabalho e/ou casa, um pouco do que somos e como sentimos espelhamos através das escolhas e disposições dos objetos a nossa volta. Retratos, lembranças, sonhos. O desejo de mudar a disposição dos móveis, comprar novos móveis para casa, pode refletir o desejo de uma mudança interior, isso pode ocorrer depois de um período de tranquilidade, uma vez que transformação não exclui a estabilidade e a continuidade.
É saudável que o mesmo ocorra em nossos relacionamentos amorosos. Conhecemos alguém, nutrimos desejo ou admiração pela pessoa e começamos a nos encontrar com ela. Podemos começar apaixonados ou do momento em que estivemos com ela o suficiente para desejarmos nos encontramos novamente com aquela pessoa. Na repetição dos encontros cada um revela algo novo e ao mesmo tempo encontramos o mesmo. Ao nos identificarmos com alguns aspectos da personalidade e até dos gostos pessoais do outro nos vemos impulsionados a querer estar próximos, ao termos prazer juntos e em estar juntos, começamos a querer compartilhar mais momentos. Da paixão podemos passar ao gostar muito até a construção de um laço amoroso sólido.
O amor comporta a tolerância do que não gostamos, justamente sustentado por tudo que admiramos e gostamos no outro e pela troca de afetividade que nos alimenta.
Depois de alguns anos as revelações são menores, sabemos como o outro reage, se está de mal humor ou realmente deprimido, como lida com a raiva, se é mais compreensivo ou exige que o sejamos mais do que ele(a) pode nos compreender. Quanto mais duradora uma relação mais encontraremos o mesmo e o novo, porque mudamos ainda que não características de personalidade. Por exemplo: se somos introvertidos, sempre o seremos, mas podemos ser introvertidos sociáveis e fazer novas amizades em uma festa com 40 anos que não faríamos aos 20. Aos 40 estamos lidamos com algumas questões diferentes das questões que iremos lidar aos 50 anos e bem diferentes de questões que tivemos que lidar aos 20 anos.
Esse processo se chama: VIDA !
Estamos contra o fluxo da vida ao almejar apenas por efemeridades. A nossa cultura que idealiza apenas o novo, a juventude, a embalagem e não o conteúdo vai numa vertente que é contra o próprio fluir da vida. A efemeridade dos encontros não apenas numa determinada fase da vida (quando jovens ou após uma separação), mas como uma forma de vida pode apontar para uma defesa, uma forma de evitar se relacionar com o outro. O eremita se relaciona durante anos com alguma abstração, uma ideia, é uma forma de vida. O que quero dizer é: sempre estamos nos relacionando quando vivos e saudáveis ou adoecemos.
Amadurecemos e crescemos em relação a partir do reconhecimento – quando bebês – que existe um outro e começamos a lidar com o fato de que não somos tudo, não somos completos, que precisamos do outro, quando então ficamos frustrados e irritados. Se tivermos sido bebês com alguma sorte foi possível chorar e ser atendidos, início do relacionar-se.
Assim se tudo correu bem aprendemos a tolerar a espera, a ausência e almejar a chegada da mãe, seu cheiro, cuidado, toque e sua atenção. Se a frustração por necessitar do outro não foi mais do que o aparelho psíquico do bebê tem capacidade de tolerar, este começará a desejar conhecer o mundo, ir e vir, bem como, aceitar as idas e vindas do outro. Começo do relacionar-se com o mundo de forma confiável!
Se os pais não lamentarem por seus bebês estarem crescendo e ficarem contentes com isso, se suportarem que suas crianças virem adolescentes por um tempo rebeldes e adultos que irão realizar os próprios sonhos, possibilitarão que seus filhos entrem no ciclo da vida, que envolve perdas e ganhos, continuidade e transformação.
Se isso não for possível, um trabalho terá que ser feito pela própria pessoa quando adulta. Como? Aprender a lidar/ suportar a dor da ausência e da perda e que precisamos do outro. Quando adultos será mais difícil que quando pequenos, mas nunca impossível.
Podemos aprender uma lição que se repete por toda a vida, que os finais podem ser transformados em aberturas para novos começos a partir de tudo que construímos, que fomos e somos e seremos.
Do primeiro choro ao último suspiro.
Ana Amorim de Farias, 2011
Psicóloga e Psicanalista
Tatuapé – Online