A dor de amar – J. D. Nasio

O psicanalista J. D.Nasio inicia
seu livro “A dor de amar”  relatando o
caso da paciente Clémence que após longo período de tratamento de esterilidade
perde o filho três dias após o seu nascimento. Nasio começa através de fragmentos
da clínica a tecer as considerações sobre  a dor e o processo de luto decorrentes da
perda de um ser amado.
Sobre o lugar do analista neste
processo escreve que atribuir um valor simbólico a uma dor que é puro real é
uma forma de possibilitar que o paciente não seja mais tomado pela dor de forma
absoluta. Entendemos que ao contrário do que o senso comum pode conceber dar
voz a dor não é consolar o paciente, encorajá-lo a viver a dor como uma
experiência fortalecedora, nem fornecer uma interpretação desta dor de forma
forçada e fora do tempo do paciente, e sim acompanhá-lo passo-a-passo neste
espaço em que a dor será diluída em lágrimas e re-significada em palavras.
Nasio afirma que a dor psíquica é
o sinal incontestável de uma prova. Ao se interrogar qual prova, responde: “A
prova de uma separação, da singular separação de um objeto que, deixando-nos
súbita e definitivamente, nos transforma e nos obriga a reconstruir-nos”
(p.20).
Nasio usa como exemplo a perda
devido a morte de uma pessoa querida, mas seu estudo abarca a perda pelo
abandono; pela humilhação, quando então somos feridos no nosso amor-próprio e a
dor da mutilação quando perdemos parte do nosso próprio corpo. Compreendendo
que todas estas dores se referem a perda de um objeto amado, ao qual estávamos
vinculados de tal forma que este participava e regulava a harmonia do nosso
funcionamento psíquico e que a tal laço nomeamos por amor, trata seu estudo
como a dor de amar. Através deste percorremos os meandros não apenas da
compreensão da dor psíquica, mas da definição do que constitui o sentimento do
amor.
Tal como um desenrolar de um
novelo de lã e depois seu tricotar, Nasio irá desdobrando e revelando ao leitor
o que entende pela dor psíquica causada pela perda a partir dos conceitos
psicanalíticos. Assim dando seqüência a sua elaboração irá compreender que a
dor aparece como um afeto causado não pela perda em si, mas pela percepção do
transtorno interno  desencadeado pela
perda.

“…a dor é um afeto, o derradeiro afeto, a última muralha antes a loucura e da morte. Ela é como um estremecimento final que comprova que a vida e o nosso poder de nos recuperarmos…Enquanto há dor, também temos força disponíveis para combate-la e continuar a viver.” (p.23)
“O que dói não é perder o ser amado, mas continuar a amá-lo mais do que nunca, mesmo sabebdo-o irremediavelmente perdido.” (p41)
“Realizar um luto significa, de fato, desinvestir pouco a pouco a representação saturada do amado perdido, para torná-la de novo conciliável com o conjunto da rede de representações egóicas.O luto nada mais é do que uma lentíssima redistribuição de energia psíquica até então concentrada em uma única representação…” (p.40)       
(A Dor de Amar, J-D,Nasio, 2007, Zahar)

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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