“Desilusão, desilusão, danço
eu, dança você, a dança da solidão…”. Para os vários tipos de solitários
de que fala a canção de Paulinho da Viola chegou ao Brasil um clássico sobre o
tema: o livro da psicanalista francesa Françoise Dolto (Editora Martins
Fontes). Intitulado simplesmente Solidão, ele teve como fonte de pesquisa casos
que se passaram nos mais de 30 anos de consultório da autora.
Para ela, as vivências mais radicais
de solidão que temos na vida são as primeiras: o parto (que separa o feto do
útero) e o desmame (que separa o bebê do seio da mãe). Há duas formas de o bebê
reagir à solidão e a que é predominante forma sua personalidade. “Uma é a
simbólica, aquela que abre as vias da comunicação à distância (o bebê chora,
aprende a se mover, a dominar o espaço); a outra é a do fetiche, apoiada no
imaginário do passado, que cala a comunicação. É quando o bebê se satisfaz com
a chupeta ou o dedo”, ensina Françoise Dolto.
de solidão que temos na vida são as primeiras: o parto (que separa o feto do
útero) e o desmame (que separa o bebê do seio da mãe). Há duas formas de o bebê
reagir à solidão e a que é predominante forma sua personalidade. “Uma é a
simbólica, aquela que abre as vias da comunicação à distância (o bebê chora,
aprende a se mover, a dominar o espaço); a outra é a do fetiche, apoiada no
imaginário do passado, que cala a comunicação. É quando o bebê se satisfaz com
a chupeta ou o dedo”, ensina Françoise Dolto.
No primeiro caso, o bebê reage de
forma construtiva, tentando se comunicar com o mundo; no segundo, ocorre
exatamente o oposto: ele se isola do mundo e a experiência de estar só ganha um
gosto amargo, que, se muitas vezes repetido, forma a personalidade hostil de um
adulto intimamente amargurado.
forma construtiva, tentando se comunicar com o mundo; no segundo, ocorre
exatamente o oposto: ele se isola do mundo e a experiência de estar só ganha um
gosto amargo, que, se muitas vezes repetido, forma a personalidade hostil de um
adulto intimamente amargurado.
Para a autora, a capacidade de
enfrentar a solidão depende da primeira infância e de como a mãe se relaciona
com o bebê. Se a mãe costuma conversar com o filho, ele se torna um adulto
capaz de enfrentar a solidão.
enfrentar a solidão depende da primeira infância e de como a mãe se relaciona
com o bebê. Se a mãe costuma conversar com o filho, ele se torna um adulto
capaz de enfrentar a solidão.
NA INFÂNCIA – A importância do desmame é tal
que, se for malfeito, termina levando ao alcoolismo na idade adulta. “A
potencialidade para tornar-se alcoólatra está ligada a uma grande felicidade de
comunhão com a mãe durante o período de aleitamento, que não foi substituída,
depois do desmame, por um intercâmbio verbal ainda mais enriquecedor. Os
alcoólatras são todos adultos carentes de mãe”, afirma a psicanalista.
que, se for malfeito, termina levando ao alcoolismo na idade adulta. “A
potencialidade para tornar-se alcoólatra está ligada a uma grande felicidade de
comunhão com a mãe durante o período de aleitamento, que não foi substituída,
depois do desmame, por um intercâmbio verbal ainda mais enriquecedor. Os
alcoólatras são todos adultos carentes de mãe”, afirma a psicanalista.
Ela conta uma história para ilustrar
outros efeitos da solidão na primeira infância. “Conheci dois bebês que a
mãe alimentava como se desse de comer a cachorros. Cuidava deles, dava papinha
nas horas certas, mas, fora esses momentos, estava sempre entregue às panelas.
Satisfazia suas necessidades, mas nunca falava com eles. Na idade de entrar
para a escola, foi terrível, não queriam de jeito algum. O único prazer das
crianças era passear com latas de conservas vazias, nas quais enfiavam pedaços
de bichos de pelúcia e de bonecas. As crianças imitavam a mãe, que fazia
conservas, mas, no lugar dos alimentos, guardavam pedaços de brinquedos”,
lembra a psicanalista.
outros efeitos da solidão na primeira infância. “Conheci dois bebês que a
mãe alimentava como se desse de comer a cachorros. Cuidava deles, dava papinha
nas horas certas, mas, fora esses momentos, estava sempre entregue às panelas.
Satisfazia suas necessidades, mas nunca falava com eles. Na idade de entrar
para a escola, foi terrível, não queriam de jeito algum. O único prazer das
crianças era passear com latas de conservas vazias, nas quais enfiavam pedaços
de bichos de pelúcia e de bonecas. As crianças imitavam a mãe, que fazia
conservas, mas, no lugar dos alimentos, guardavam pedaços de brinquedos”,
lembra a psicanalista.
Aos 2 anos, porém, a situação se
inverte. A solidão, danosa para os bebês, é boa companheira para crianças com
mais idade. “Deixar as crianças sós (e não no isolamento), respeitando sua
solidão aparentemente desocupada, é indispensável para que elas não se tornem
robôs dos outros. Estar só é enriquecedor quando isto não é sentido como
rejeição. Os pais são os mestres da vida. As crianças deveriam ser ensinadas a
jamais confundir amor com dependência”, comenta a autora.
inverte. A solidão, danosa para os bebês, é boa companheira para crianças com
mais idade. “Deixar as crianças sós (e não no isolamento), respeitando sua
solidão aparentemente desocupada, é indispensável para que elas não se tornem
robôs dos outros. Estar só é enriquecedor quando isto não é sentido como
rejeição. Os pais são os mestres da vida. As crianças deveriam ser ensinadas a
jamais confundir amor com dependência”, comenta a autora.
Segundo Françoise Dolto, os
adolescentes têm um desequilíbrio revelador em seu comportamento.
“Retraimentos solitários alternam-se com atitudes provocantes”,
explica. “A solidão é a mais perigosa das fugas para o adolescente. A
intensidade emocional da atração pelo sexo e o medo de ser ridículo são
resquícios do complexo de Édipo que levam ao sentimento de culpa por qualquer
desejo sexual. Mascarar o desejo com uma capa de indiferença ou contar
vantagem, fantasiando conquistas, são meios de bloquear a comunicação autêntica
para anular a angústia”, defende.
adolescentes têm um desequilíbrio revelador em seu comportamento.
“Retraimentos solitários alternam-se com atitudes provocantes”,
explica. “A solidão é a mais perigosa das fugas para o adolescente. A
intensidade emocional da atração pelo sexo e o medo de ser ridículo são
resquícios do complexo de Édipo que levam ao sentimento de culpa por qualquer
desejo sexual. Mascarar o desejo com uma capa de indiferença ou contar
vantagem, fantasiando conquistas, são meios de bloquear a comunicação autêntica
para anular a angústia”, defende.
TIPOS – O livro de Françoise Dolto se
estrutura como uma conversa de consultório entre analista e analisando,
passeando por várias solidões – a sensação de abandono dos bebês; a reclusão
agressiva dos adolescentes; a angústia da separação conjugal; o sentimento de
perda dos viúvos; o isolamento sensorial de cegos e surdos. No final do
percurso, a autora francesa flagra a solidão como refúgio criativo de artistas
e escritores para torná-la exemplo cotidiano.
estrutura como uma conversa de consultório entre analista e analisando,
passeando por várias solidões – a sensação de abandono dos bebês; a reclusão
agressiva dos adolescentes; a angústia da separação conjugal; o sentimento de
perda dos viúvos; o isolamento sensorial de cegos e surdos. No final do
percurso, a autora francesa flagra a solidão como refúgio criativo de artistas
e escritores para torná-la exemplo cotidiano.
Para Françoise Dolto, a solidão só
acaba quando se descobre uma forma de se expressar. Escrever (mesmo que sejam
diários) é um caminho para transformar a solidão numa experiência construtiva,
de busca de comunicação.
acaba quando se descobre uma forma de se expressar. Escrever (mesmo que sejam
diários) é um caminho para transformar a solidão numa experiência construtiva,
de busca de comunicação.
“Ninguém
vive sem sentir solidão; e nem pode estar sempre com alguém. A personalidade
forte é habitada, desde a infância, por uma solidão povoada de intercâmbios de
palavras e de contato físico”.
vive sem sentir solidão; e nem pode estar sempre com alguém. A personalidade
forte é habitada, desde a infância, por uma solidão povoada de intercâmbios de
palavras e de contato físico”.