A Pele


O
psicanalista Donald D. Winnicott é conhecido por muitos de seus
conceitos, entre eles pelo estudo profundo da criatividade e da
espontaneidade.
O
bebê chega ao mundo e é um ser único, se a mãe consegue se identificar
com ele e respeitar seus ritmos e forma de ser abre-se à possibilidade
da espontaneidade. O bebê acredita que cria seu mundo. Mas nem sempre
tudo corre bem, as invasões maternas e depois do meio podem “esmagar” o
self (si mesmo) e este fica protegido pelo falso self, a máscara que
pode ser exibida socialmente sem colocar o precioso verdadeiro si mesmo
em perigo.
Infelizmente
a vida da pessoa pode se transformar numa farsa para ela mesma e ela
confunde-se com o próprio “personagem” que criou, mantendo dentro de si
uma insatisfação, ás vezes, inexplicável para ela mesma.
É o que ocorre com a personagem Diane Arbus (Nicole Kidman) no filme A Pele (2006).
Antes
de prosseguir é interessante pontuar que no inicio do filme o diretor
Steven Shainberg (Secretária – 2003) avisa que se trata de uma história
fictícia criada a partir da biografia da escritora Patrícia Bosworth
(também produtora do filme). Tal informação provavelmente tem como
intuito deixá-lo livre de possíveis cobranças de fazer um retrato fiel
de Diane. Porém sua fantasiosa versão para o mundo da fotografa não
agradou a crítica americana. É fácil compreender ao ver o filme que é
para poucas pessoas sensíveis que podem captar o significado do
aprisionamento de Diane e sua libertação.
Compreendemos
através da psicanálise winnicottiana que a pessoa vive através do falso
self, mas procura a realização do seu verdadeiro self. Tal busca pode
se dar de diversas formas, bem como o encontro. Para Diane foi através
do encontro e apaixonamento recíproco pelo vizinho Lionel (Robert
Downey). Ele é portador de uma doença rara que o faz ter pêlos por todo o
corpo, que crescem sem cessar.
Ambos revelam-se aos poucos, revelações profundas, é a atração é inevitável.
Lionel
propicia que Diane traga á luz seu verdadeiro self. Deixa a vida
anterior que tinha, de assistente de fotografia publicitária do marido e
torne-se fotografa.
É
ainda, para quem pode ver com os “olhos da alma”, uma linda e trágica
história de amor, um amor que não pode seguir, mas deixa marcas
profundas e inesquecíveis para Diane e espero para muitos que assistem
ao filme.
É um exemplo de realização, de ultrapassar limites, de ter coragem apenas de viver, seja, até o limite.
Minha dica, não percam!
Para
completar, quem quiser saber mais pesquise a vida de Diane Arbus
(1923-1971) que se tornou uma das mais importantes fotógrafas
americanas. Retratista tinha como alvo, o que a sociedade considerava
fora dos padrões estéticos. Seus protagonistas viviam no gueto, á
margem, e a preocupação de Diane era justamente retratar o que havia de
verdadeiro por trás das máscaras, suas dores, angústias, frustrações.



Anna Amorim, 2009

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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