ISBN-13: 9788570413680
Idioma: português
Encadernação: Brochura
Edição: 1ª
Ano de Lançamento: 2003
Número de páginas: 312
SINOPSE: Em fevereiro de 1963, aos 30 anos de idade, a escritora
americana Sylvia Plath se suicidou em Londres, onde morava com seus dois
filhos, poucos meses depois de ter se separado de seu marido, o poeta inglês
Ted Hughes. A morte de Plath aconteceu em meio a uma intensa produção poética,
que haveria de incluí-la, por fim, entre as autoras mais importantes do século
XX. Uma abordagem psicanalítica da obra da escritora revelará elementos que nos
permitem reconhecer uma espécie de toxidez da escrita. Este aspecto aponta a
presença de impulsos destrutivos que operam no interior do processo criativo.
Na articulação entre vida, obra e morte, este livro procura ressaltar os modos
pelos quais esses impulsos relacionam-se aos limites da escrita literária em
sua dupla face funcional e disfuncional.
americana Sylvia Plath se suicidou em Londres, onde morava com seus dois
filhos, poucos meses depois de ter se separado de seu marido, o poeta inglês
Ted Hughes. A morte de Plath aconteceu em meio a uma intensa produção poética,
que haveria de incluí-la, por fim, entre as autoras mais importantes do século
XX. Uma abordagem psicanalítica da obra da escritora revelará elementos que nos
permitem reconhecer uma espécie de toxidez da escrita. Este aspecto aponta a
presença de impulsos destrutivos que operam no interior do processo criativo.
Na articulação entre vida, obra e morte, este livro procura ressaltar os modos
pelos quais esses impulsos relacionam-se aos limites da escrita literária em
sua dupla face funcional e disfuncional.
A psicanalista Eliana Borges Pereira Leite, no texto Escrita de risco, poesia de abismo cometa sobre o livro: Além de
fornecer ao leitor, na primeira parte de seu livro, os dados mais
importantes sobre a vida de Sylvia Plath, Ana Cecília Carvalho
descreve e analisa o modo de produção que será a marca registrada da
sua poesia, sua poética autobiográfica. Inicialmente influenciada pelo
New Criticism – movimento que exigia do autor o distanciamento das suas
próprias experiências e que valorizava a impessoalidade –, Plath
precisou ultrapassar suas primeiras convicções para assumir uma escrita
cuja força estava justamente na captação poética e na transformação das
suas experiências cotidianas, das mais simples às mais complexas ou
sofridas, em matéria-prima dos seus romances e poemas. A relação
problemática com a mãe, o conturbado casamento com o escritor Ted Hughes
e as angústias relativas ao seu projeto literário se expressam de
diferentes maneiras em cartas e diários. Parcialmente publicados após
sua morte, esses documentos pessoais dão a conhecer um árduo trabalho de
ficcionalização da experiência, revelando o esforço de representação
inerente à busca de uma forma poética que, sem se tornar confessional,
desse o contorno adequado e a versão literária ao seu mundo emocional. A
determinação de Sylvia Plath fazia com que ela “não perdesse de vista
que a complexidade da vida emocional requer uma preparação controlada e
sempre atenta aos dispositivos da linguagem para que a efetividade
literária possa ocorrer” (p. 42).
fornecer ao leitor, na primeira parte de seu livro, os dados mais
importantes sobre a vida de Sylvia Plath, Ana Cecília Carvalho
descreve e analisa o modo de produção que será a marca registrada da
sua poesia, sua poética autobiográfica. Inicialmente influenciada pelo
New Criticism – movimento que exigia do autor o distanciamento das suas
próprias experiências e que valorizava a impessoalidade –, Plath
precisou ultrapassar suas primeiras convicções para assumir uma escrita
cuja força estava justamente na captação poética e na transformação das
suas experiências cotidianas, das mais simples às mais complexas ou
sofridas, em matéria-prima dos seus romances e poemas. A relação
problemática com a mãe, o conturbado casamento com o escritor Ted Hughes
e as angústias relativas ao seu projeto literário se expressam de
diferentes maneiras em cartas e diários. Parcialmente publicados após
sua morte, esses documentos pessoais dão a conhecer um árduo trabalho de
ficcionalização da experiência, revelando o esforço de representação
inerente à busca de uma forma poética que, sem se tornar confessional,
desse o contorno adequado e a versão literária ao seu mundo emocional. A
determinação de Sylvia Plath fazia com que ela “não perdesse de vista
que a complexidade da vida emocional requer uma preparação controlada e
sempre atenta aos dispositivos da linguagem para que a efetividade
literária possa ocorrer” (p. 42).
Para finalizar, PALAVRAS e OLMO de Sylvia Plath:
PALAVRAS
Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
OLMO
É disso que tu tens medo.
Mas eu não tenho medo: já lá
estive.
As suas insatisfações?
Ou a voz do nada que era a tua
loucura?
Como ficas prostrada e chorosa
depois
Escuta: são os cascos dele:
desapareceu como um cavalo.
Até que a tua cabeça fique uma
pedra e a tua almofada um pequeno monte de turfa,
Fazendo eco, fazendo eco.
Agora é a chuva, este quase
silêncio.
E este é o seu fruto: da cor
metálica do arsénico.
Queimados até à raiz
Os filamentos vermelhos ardem,
ficam espetados, mão de fios eléctricos.
Conheço o fundo, diz ela. Cheguei
lá com a minha raiz maior:
É disso que tu tens medo.
Mas eu não tenho medo: já lá
estive.
É o mar o que houves em mim,
As suas insatisfações?
Ou a voz do nada que era a tua
loucura?
O amor é uma sombra.
Como ficas prostrada e chorosa
depois
Escuta: são os cascos dele:
desapareceu como um cavalo.
Toda a noite vou galopar, assim,
impetuosamente,
Até que a tua cabeça fique uma
pedra e a tua almofada um pequeno monte de turfa,
Fazendo eco, fazendo eco.
Ou deverei eu trazer-te um som de
venenos?
Agora é a chuva, este quase
silêncio.
E este é o seu fruto: da cor
metálica do arsénico.
Tenho sofrido a atrocidade dos
crepúsculos.
Queimados até à raiz
Os filamentos vermelhos ardem,
ficam espetados, mão de fios eléctricos.
Desfaço-me em bocados de caruma que voam em várias
direcções.
Um vento tão violento
Não aguenta espectadores: tenho de gritar.
Cruel, na sua esterilidade.
O seu esplendor ofusca-me. Ou talvez a tenha agarrado.
Diminuida e esvaziada, como após uma operação radical.
Como os teus sonhos maus me possuem e alimentam.
Noite após noite bate as asas
Procurando com as garras algo para amar.
Que dorme dentro de mim;
Todo o dia sinto o macio voltejar das suas penas, a sua malignidade.
Serão essas as faces do amor, esfumadas coisas que não se recuperam?
É por isto que perturbo o meu coração?
O que é isto, este rosto
Tão assassino em seus tentáculos estranguladores?-
Petrifica o desejo. Erros que isolam, essas falhas lentas
Que matam, e matam, e matam.
direcções.
Um vento tão violento
Não aguenta espectadores: tenho de gritar.
Também da lua ausente a piedade: havia de arrastar-me
Cruel, na sua esterilidade.
O seu esplendor ofusca-me. Ou talvez a tenha agarrado.
Vou deixá-la ir. Vou deixá-la ir
Diminuida e esvaziada, como após uma operação radical.
Como os teus sonhos maus me possuem e alimentam.
Sou habitada por um grito.
Noite após noite bate as asas
Procurando com as garras algo para amar.
Aterroriza-me esta coisa tenebrosa
Que dorme dentro de mim;
Todo o dia sinto o macio voltejar das suas penas, a sua malignidade.
As nuvens passam e dispersam-se.
Serão essas as faces do amor, esfumadas coisas que não se recuperam?
É por isto que perturbo o meu coração?
Sou incapaz de aprender mais.
O que é isto, este rosto
Tão assassino em seus tentáculos estranguladores?-
O seu ácido silvo de serpente.
Petrifica o desejo. Erros que isolam, essas falhas lentas
Que matam, e matam, e matam.
Sylvia Plath
Ariel, tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D’Água, 1996
Ariel, tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D’Água, 1996
Ler na íntegra o texto Escrita de risco, poesia de abismo: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0101-31062010000100022&script=sci_arttext