“Amar
verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma
verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma
resposta, à nossa questão “Quem sou eu?” (Jacques-Alain Miller)
verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma
verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma
resposta, à nossa questão “Quem sou eu?” (Jacques-Alain Miller)
Jacques-Alain Miller, é psicanalista e responsável pelo estabelecimento
de texto dos Seminários e de outros artigos de Jacques Lacan.
de texto dos Seminários e de outros artigos de Jacques Lacan.
Além das relações profissionais, Alain Miller casou-se com a filha de
Lacan.
Abaixo uma entrevista de Jacques-Alain Miller sobre o amor.
Lacan.
Abaixo uma entrevista de Jacques-Alain Miller sobre o amor.
Entre preciosidades destaco a frase: “Amar verdadeiramente
alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si”.
Bela definição do amor, assim podemos compreender que ao amamos alguém
esperamos encontrar alguma resposta sobre nós mesmos, sobre quem nós somos.
alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si”.
Bela definição do amor, assim podemos compreender que ao amamos alguém
esperamos encontrar alguma resposta sobre nós mesmos, sobre quem nós somos.
Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?
Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor.
Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando
dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do
mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige
àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor
permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de
fato, difícil de suportar.
Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando
dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do
mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige
àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor
permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de
fato, difícil de suportar.
P.: Então, o que é amar verdadeiramente?
J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará
a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma
resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.
a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma
resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.
P.: Por que alguns sabem amar e outros não?
J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se
posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer
amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas
presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem
necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos,
ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente.
Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as
delícias.
posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer
amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas
presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem
necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos,
ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente.
Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as
delícias.
P.: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…
J-A Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se
tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro,
colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar
algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se
assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso
é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição
feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um
homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não
está seguro de sua virilidade.
tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro,
colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar
algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se
assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso
é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição
feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um
homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não
está seguro de sua virilidade.
P.: Amar seria mais difícil para os homens?
J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho,
assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o
coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar
as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em
suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida
amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.
assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o
coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar
as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em
suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida
amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.
P.: E nas mulheres?
J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do
parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas
desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado.
Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma
posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens
para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…
parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas
desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado.
Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma
posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens
para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…
P.: Por que “cada vez mais”?
J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da
virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas
emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um
certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir
“eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os
símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade
dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a
fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt
Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a
assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento
desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em
baixa.
virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas
emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um
certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir
“eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os
símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade
dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a
fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt
Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a
assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento
desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em
baixa.
P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no
contexto atual? O que significa?
contexto atual? O que significa?
J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a
mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso
seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo,
mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te
amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito
do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à
toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma
coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma
alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se
produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.
mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso
seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo,
mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te
amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito
do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à
toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma
coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma
alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se
produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.
P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que
ele? Por que ela?
ele? Por que ela?
J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do
amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que
tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente
às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história
singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo,
assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no
nariz de uma mulher!
amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que
tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente
às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história
singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo,
assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no
nariz de uma mulher!
P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor,
nessas baboseiras!
nessas baboseiras!
J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora
não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no
amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade
que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como
fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As
particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal
personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres.
Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que
fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes
manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para
desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da
corte masculina.
não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no
amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade
que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como
fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As
particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal
personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres.
Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que
fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes
manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para
desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da
corte masculina.
P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?
J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são
mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o
inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter
o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio
ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar
ausente, em outro lugar.
mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o
inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter
o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio
ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar
ausente, em outro lugar.
P.: E a fantasia masculina?
J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo
clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do
jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez,
alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade
maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha
prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de
secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de
imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o
desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele
próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego.
Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se
nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a
pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.
clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do
jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez,
alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade
maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha
prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de
secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de
imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o
desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele
próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego.
Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se
nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a
pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.
P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!
J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por
antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é
programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes.
Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante.
As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização
se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora,
acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais,
mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O
modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para
o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos
alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.
antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é
programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes.
Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante.
As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização
se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora,
acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais,
mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O
modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para
o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos
alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.
P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?
J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é
repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro
da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a
ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais
amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher:
Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando
uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é
estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato,
Aristóteles.
repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro
da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a
ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais
amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher:
Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando
uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é
estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato,
Aristóteles.
P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as
mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas…
mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas…
J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o
diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de
fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando
as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a
saída não existe.
diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de
fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando
as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a
saída não existe.
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(1) Zygmunt Bauman, L’amour liquide, de la fragilité des liens entre les
hommes (Hachette Littératures, « Pluriel », 2008)
hommes (Hachette Littératures, « Pluriel », 2008)
(2) Les souffrances du jeune Werther de Goethe (LGF, « le livre de poche
», 2008).
», 2008).
(3) Honoré de Balzac in La comédie humaine, vol. VI, « Études de mœurs :
scènes de la vie parisienne » (Gallimard, 1978).
scènes de la vie parisienne » (Gallimard, 1978).
Tradução de Maria do Carmo Dias Batista.