Capacidade de ficar só

Há muitas diferentes formas de solidão. Muitos podem se surpreender com essa frase e afirmar: “Solidão é solidão, condição de sentir-se só e desejar a companhia de outro sem tê-la”. Mas a solidão antes de tudo e algo inerente ao humano. Sim, pois por mais que tenhamos amigos, parentes, companheiro (a) de vida, filhos, cada um de nós carrega uma história de vida única. Temos um único corpo e um único mundo interno, o que nos torna não apenas únicos, mas sós na nossa singularidade. Essa é a solidão como condição humana. Entretanto, como viver essa solidão depende de trajetória de vida de cada um e da capacidade de ficarmos sós. O pediatra e psicanalista inglês, Donald D. Winnicott (1896-1971), formulou que a capacidade de ficar só é uma possibilidade humana desenvolvida e sedimentada na relação primeira com o outro que cuida do bebê. Ou seja, se no começo  possibilitam sermos únicos e nos sentirmos acompanhados, desenvolveremos a possibilidade de ficar só sem entrar em agonia. Para exemplificar, observem um bebê brincando perto da mãe. Ao mesmo tempo em que está sozinho, não está. Embora sob o olhar materno, a criança está absorvida na brincadeira. Com o tempo se tudo correr bem no desenvolvimento da criança, ela aprenderá que o fato da mãe não estar mais perto não significa que sumiu ou que nunca mais aparecerá. O filho agora possui dentro de si uma “mãe interna” que carregará para toda a vida. A capacidade de estar só facilita o relacionar-se, pois não há necessidade do outro para sentir-se vivo, mas o vivo desejo de compartilhar coisas com o outro. Desejo intrínseco ao humano no seu caminhar pela vida. 




Ana Amorim de Farias, 2009
Psicóloga e psicanalista
Adultos e Casais


Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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