Primeiro quero agradecer pelo convite o pessoal do Instituto Latino americano
de Psicanálise Contemporânea, através dos colegas Olivan Liger e Tiago Oliveira
e a um agradecimento especial à Ana Gueiros – uma jornalista contaminada pela
Peste. É uma honra e um prazer estar aqui com todos vocês.
de Psicanálise Contemporânea, através dos colegas Olivan Liger e Tiago Oliveira
e a um agradecimento especial à Ana Gueiros – uma jornalista contaminada pela
Peste. É uma honra e um prazer estar aqui com todos vocês.
Bom…. para iniciarmos
este Pensar Psicanálise 2ª edição, nada melhor que algumas questões para nos
provocar:
este Pensar Psicanálise 2ª edição, nada melhor que algumas questões para nos
provocar:
O que é depressão para
psicanálise?
psicanálise?
Seria o baixo nível de
serotonina em certas áreas do cérebro?
serotonina em certas áreas do cérebro?
Uma doença do
corpo? Uma doença da alma?
corpo? Uma doença da alma?
Uma nova estrutura
clínica?
clínica?
Uma nova patologia que
surgiu agora na contemporaneidade?
surgiu agora na contemporaneidade?
Uma doença do tempo,
pois está relacionada com ele com o tempo?
pois está relacionada com ele com o tempo?
Ou, como já ouvi por aí,
uma doença dos ricos, pois pobre não tem tempo para isso?
uma doença dos ricos, pois pobre não tem tempo para isso?
E agora, para exercitar
um pouco mais o pensamento, vem o pessoal do ILPC com esse tema “Depressão: a
epidemia do desencanto”.
um pouco mais o pensamento, vem o pessoal do ILPC com esse tema “Depressão: a
epidemia do desencanto”.
Como assim?
Bem, podemos pensar a
depressão de várias maneiras dependendo do lugar que se fala, com os conceitos
que a colocam como uma patologia, um estado do ser, uma doença na qual a pessoa
se encontra com suas atividades mentais e psicológicas, afetivas, de humor,
assim como as motoras entre outras, niveladas por baixo. Mas, também, como um
dos sofrimentos da alma, ao lado da dor e da angústia.
depressão de várias maneiras dependendo do lugar que se fala, com os conceitos
que a colocam como uma patologia, um estado do ser, uma doença na qual a pessoa
se encontra com suas atividades mentais e psicológicas, afetivas, de humor,
assim como as motoras entre outras, niveladas por baixo. Mas, também, como um
dos sofrimentos da alma, ao lado da dor e da angústia.
A depressão como uma
pathos do humano, Pathos, paixão, afeto. Enfim, uma doença do humano.
pathos do humano, Pathos, paixão, afeto. Enfim, uma doença do humano.
Pierre Fédida a chamou
de “doença humana do tempo”:
de “doença humana do tempo”:
Uma doença humana
do tempo que afeta a representação e a ação, as potencialidades da linguagem,
assim como a comunicação com os outros.
do tempo que afeta a representação e a ação, as potencialidades da linguagem,
assim como a comunicação com os outros.
Tempo no sentido amplo:
objetivo e subjetivo, cronológico e psíquico.
objetivo e subjetivo, cronológico e psíquico.
Bem… Para psicanálise,
trata-se de uma posição, pois a depressão se manifesta de modo e maneiras
diferentes e em todos os quadros clínicos – a neurose, a psicose, a perversão –
do mesmo jeito que a dor e a angústia se manifesta.
trata-se de uma posição, pois a depressão se manifesta de modo e maneiras
diferentes e em todos os quadros clínicos – a neurose, a psicose, a perversão –
do mesmo jeito que a dor e a angústia se manifesta.
Lembro de Mauro Mendes
que faz uma colocação que eu acho uma das melhores para se entender a Depressão
em Psicanálise. Ele diz que a depressão “refere-se a uma posição do sujeito. É
um determinado tipo de resposta que o sujeito dá e diz respeito
fundamentalmente ao tipo de relação que o sujeito estabelece com o Outro”.
que faz uma colocação que eu acho uma das melhores para se entender a Depressão
em Psicanálise. Ele diz que a depressão “refere-se a uma posição do sujeito. É
um determinado tipo de resposta que o sujeito dá e diz respeito
fundamentalmente ao tipo de relação que o sujeito estabelece com o Outro”.
E em relação com o
tempo, a depressão tem sim essa associação, assim como a angústia também. Porém
de lugares diferentes: “a angústia se endereça ao futuro, enquanto a depressão
se refere ao passado”.
tempo, a depressão tem sim essa associação, assim como a angústia também. Porém
de lugares diferentes: “a angústia se endereça ao futuro, enquanto a depressão
se refere ao passado”.
Mas, se eu tivesse a
capacidade de escrever como eu entendo a depressão, seria algo tipo assim:
capacidade de escrever como eu entendo a depressão, seria algo tipo assim:
Uma doença de ser humano
submetido, desde o nascimento,
submetido, desde o nascimento,
à necessidade de se
dotar de uma vida psíquica graças às interações com a mãe e o ambiente; e, por
esta razão, doença de ser humano capaz de ser psíquica e corporalmente, afetada
pelo excesso de violência vinda do
dotar de uma vida psíquica graças às interações com a mãe e o ambiente; e, por
esta razão, doença de ser humano capaz de ser psíquica e corporalmente, afetada
pelo excesso de violência vinda do
interior e/ou exterior.”
(Fédida)
(Fédida)
E quando se diz
violência do interior, entende-se fúria pulsional e quando se diz do exterior,
está relacionada ao Outro, ao ambiente. Também acrescentaria nessa citação ao
lado da mãe, o pai.
violência do interior, entende-se fúria pulsional e quando se diz do exterior,
está relacionada ao Outro, ao ambiente. Também acrescentaria nessa citação ao
lado da mãe, o pai.
Então… neste exercício
de pensamento, vamos transformar a afirmação do tema “Depressão: a epidemia do
desencanto”, em questão, para que possamos suscitar uma hipótese que esse
desencanto está diretamente ligado ao Outro, ficando desta forma: Depressão: a
epidemia do desencanto?
de pensamento, vamos transformar a afirmação do tema “Depressão: a epidemia do
desencanto”, em questão, para que possamos suscitar uma hipótese que esse
desencanto está diretamente ligado ao Outro, ficando desta forma: Depressão: a
epidemia do desencanto?
E desta maneira ficaria
mais fácil afirmamos que o Outro que é o responsável pelo nosso desencanto e,
portanto, o responsável direto por nossa depressão, simples assim? É bom
lembrar que viemos ao mundo através desse Outro e habitar esse mesmo mundo já
habitado pelos Outros… E aí, como ficamos? Já seríamos pré determinados para
ser e ter isto ou aquilo?
mais fácil afirmamos que o Outro que é o responsável pelo nosso desencanto e,
portanto, o responsável direto por nossa depressão, simples assim? É bom
lembrar que viemos ao mundo através desse Outro e habitar esse mesmo mundo já
habitado pelos Outros… E aí, como ficamos? Já seríamos pré determinados para
ser e ter isto ou aquilo?
Se correr o Outro pega e
se ficar o Outro come ???
se ficar o Outro come ???
É isso mesmo ???
Mas se seguirmos esse
raciocínio por outra ponta perceberemos que para haver desencanto é preciso,
primeiro e necessariamente, que haja o encanto. Correto? Bem e agora?
raciocínio por outra ponta perceberemos que para haver desencanto é preciso,
primeiro e necessariamente, que haja o encanto. Correto? Bem e agora?
Continuando por essa
via…
via…
Então, o desencanto
passaria a ser a consequência, uma resposta para o encantamento. Sairia deste
lugar de causa – que a princípio dá mesmo esta impressão – cedendo-o para o
encanto, ok?
passaria a ser a consequência, uma resposta para o encantamento. Sairia deste
lugar de causa – que a princípio dá mesmo esta impressão – cedendo-o para o
encanto, ok?
Sendo assim, então
estamos aqui para falarmos sobre a epidemia do encanto, pois só “pode” haver
desencanto após sermos encantados. Como dizia um professor meu… “d’accord ?”
Ainda bem que existe o “pode” e o “quase” para nos salvar, não é mesmo Arnaldo Domínguez?
estamos aqui para falarmos sobre a epidemia do encanto, pois só “pode” haver
desencanto após sermos encantados. Como dizia um professor meu… “d’accord ?”
Ainda bem que existe o “pode” e o “quase” para nos salvar, não é mesmo Arnaldo Domínguez?
Tá dando para acompanhar
esse meu “quase” devaneio ou está muito confuso?
esse meu “quase” devaneio ou está muito confuso?
Seguindo… Bem,
aí a epidemia passaria a ser a do encanto e a depressão assumiria o lugar de
resposta, diria, uma resposta ao “fracasso” desse encantamento.
aí a epidemia passaria a ser a do encanto e a depressão assumiria o lugar de
resposta, diria, uma resposta ao “fracasso” desse encantamento.
Então, para deixar mais
ou menos claro, estamos presenciando e vivenciando uma epidemia do encanto. E
como sugere o tema a depressão viria daí, certo?
ou menos claro, estamos presenciando e vivenciando uma epidemia do encanto. E
como sugere o tema a depressão viria daí, certo?
E o que não mudaria
seria a posição do Outro como agente. O responsável pelo nosso sofrimento. É
isso mesmo?
seria a posição do Outro como agente. O responsável pelo nosso sofrimento. É
isso mesmo?
Bem, desenvolvendo essa
linha e como não existimos sem o Outro, pois, como já disse, nascemos e nos
constituímos como sujeito através desse Outro, ele seria facilmente apontado
como o responsável sim por nossas desgraças. Pois antes de nos desencantar, ele
nos encantou com um canto próprio das sereias.. Como?
linha e como não existimos sem o Outro, pois, como já disse, nascemos e nos
constituímos como sujeito através desse Outro, ele seria facilmente apontado
como o responsável sim por nossas desgraças. Pois antes de nos desencantar, ele
nos encantou com um canto próprio das sereias.. Como?
Já falei que esse Outro
(organizador do nosso eu) primeiro é a mãe, depois o pai, depois aparece o
professor, o padre, o pastor, o chefe, o patrão, a empresa, o capital, o
capitalismo com seu produza e consuma… e por aí a fora. Ao longo de nossas
vidas muitos vão ocupando esse lugar de grande Outro para nós,
…qualquer um que toma um lugar de importância para nós… também falei do
marido, esposa, filhos, etc?
(organizador do nosso eu) primeiro é a mãe, depois o pai, depois aparece o
professor, o padre, o pastor, o chefe, o patrão, a empresa, o capital, o
capitalismo com seu produza e consuma… e por aí a fora. Ao longo de nossas
vidas muitos vão ocupando esse lugar de grande Outro para nós,
…qualquer um que toma um lugar de importância para nós… também falei do
marido, esposa, filhos, etc?
Bom, então a questão
agora é outra: qual o canto que nos encanta tanto ???
agora é outra: qual o canto que nos encanta tanto ???
Vejamos: seria a
promessa ingênua de vivermos felizes para sempre?
promessa ingênua de vivermos felizes para sempre?
De encontrarmos a paz, o
sentimento oceânico, a plenitude, o amor incondicional?
sentimento oceânico, a plenitude, o amor incondicional?
De acharmos a outra
metade da laranja, ou a tampa da panela ou sei lá mais o quê que nos complete e
nos traga o que desejamos, o nosso objeto a, nosso objeto de desejo? É isso ?
metade da laranja, ou a tampa da panela ou sei lá mais o quê que nos complete e
nos traga o que desejamos, o nosso objeto a, nosso objeto de desejo? É isso ?
Bem… o que escuto na
minha clínica – e vem de várias maneiras – é mais o menos o que o Titãs diz no
seu rock:
minha clínica – e vem de várias maneiras – é mais o menos o que o Titãs diz no
seu rock:
“Todo mundo quer amor /
Todo mundo quer amor de verdade
Todo mundo quer amor de verdade
Uma pessoa boa quer amor
/ Uma pessoa má quer amor, / Quer amor de verdade
/ Uma pessoa má quer amor, / Quer amor de verdade
Quem
tem medo quer amor, / Quem tem fome quer amor, / Quem tem frio quer amor, /
Quer amor de verdade
Ele quer / Ela quer / Ele quer / Todo mundo quer amor de verdade”
Seja feita de ilusão
Pode até
ficar maluco
Ou morrer
na solidão
É preciso
ter cuidado
Pra mais
tarde não sofrer
É preciso
saber viver
Você pode
retirar
Numa flor
que tem espinhos
Você pode
se arranhar
Se o bem e
o mal existem
Você pode
escolher
É preciso
saber viver
tem medo quer amor, / Quem tem fome quer amor, / Quem tem frio quer amor, /
Quer amor de verdade
Ele quer / Ela quer / Ele quer / Todo mundo quer amor de verdade”
Seja feita de ilusão
Pode até
ficar maluco
Ou morrer
na solidão
É preciso
ter cuidado
Pra mais
tarde não sofrer
É preciso
saber viver
Você pode
retirar
Numa flor
que tem espinhos
Você pode
se arranhar
Se o bem e
o mal existem
Você pode
escolher
É preciso
saber viver
É por isso que escutamos
o canto das sereias? Por amor? Para sermos amados?
o canto das sereias? Por amor? Para sermos amados?
E essa pergunta me
remete à Colette Soler que cita, no seu livro “O inconsciente: que é isso?”,
uma passagem na qual Lacan pergunta: “por que amamos?” Resposta: “Amamos para
sermos amados.”
remete à Colette Soler que cita, no seu livro “O inconsciente: que é isso?”,
uma passagem na qual Lacan pergunta: “por que amamos?” Resposta: “Amamos para
sermos amados.”
Se eu invisto,
libidinalmente falando, o objeto de amor tenho o direito da compensação, de
receber do objeto o mesmo quantum da libido investida, de preferência com
juros. Legítimo, né? Bem, isso é que gostaríamos, pois amamos para sermos
amados, no mínimo, com igualdade.
libidinalmente falando, o objeto de amor tenho o direito da compensação, de
receber do objeto o mesmo quantum da libido investida, de preferência com
juros. Legítimo, né? Bem, isso é que gostaríamos, pois amamos para sermos
amados, no mínimo, com igualdade.
Acontece que,
generalizando, essa promessa de amor, de recompensa do amor investido vem
acompanhada, ou melhor, vem atrelada num… “só se você fizer isso ou se
você fizer aquilo que ganharás meu respeito, minha consideração, meu
reconhecimento e gratidão, por fim, ganharás o meu amor de volta!”
generalizando, essa promessa de amor, de recompensa do amor investido vem
acompanhada, ou melhor, vem atrelada num… “só se você fizer isso ou se
você fizer aquilo que ganharás meu respeito, minha consideração, meu
reconhecimento e gratidão, por fim, ganharás o meu amor de volta!”
Mas, que amor é este que
buscamos desesperadamente que para consegui-lo fazemos qualquer negócio?
buscamos desesperadamente que para consegui-lo fazemos qualquer negócio?
Seria, na nossa
fantasia, o da alma gêmea? Aquele que nos deixaria completo? Que nos faria ser
um?
fantasia, o da alma gêmea? Aquele que nos deixaria completo? Que nos faria ser
um?
A tampa da panela que me
falta para atingir o nirvana, a felicidade?
falta para atingir o nirvana, a felicidade?
E aí… o capitalismo,
que nunca foi bobo nem nada, sabendo dessa nossa enorme disposição de tamponar
a nossa falta faz seu jogo. E joga pesado atingindo em cheio, com suas falsas
promessas a nossa fantasia original de completude. Ou seja, de eu voltar a ser
aquilo que eu era, quando eu dizia na alienação simbiótica com a mãe, “sou o
seio que sou”.
que nunca foi bobo nem nada, sabendo dessa nossa enorme disposição de tamponar
a nossa falta faz seu jogo. E joga pesado atingindo em cheio, com suas falsas
promessas a nossa fantasia original de completude. Ou seja, de eu voltar a ser
aquilo que eu era, quando eu dizia na alienação simbiótica com a mãe, “sou o
seio que sou”.
Bom… voltando ao
capital, ao sistema que elegemos para comandar nossas vidas na sociedade
contemporânea… Sim e é importante não nos esquecermos: nós o elegemos!
Escolha nossa !!!
capital, ao sistema que elegemos para comandar nossas vidas na sociedade
contemporânea… Sim e é importante não nos esquecermos: nós o elegemos!
Escolha nossa !!!
Bem.. e ele, o
capitalismo, com seus encantos e com suas promessas constantes de felicidade
nos seduz oferecendo suas bugigangas envolvendo-nos numa espécie de pacto a la
Fausto de Goethe e a la Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Seria um
pacto com o demônio disfarçado de anjo do pote da felicidade?
capitalismo, com seus encantos e com suas promessas constantes de felicidade
nos seduz oferecendo suas bugigangas envolvendo-nos numa espécie de pacto a la
Fausto de Goethe e a la Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Seria um
pacto com o demônio disfarçado de anjo do pote da felicidade?
Corra, corra, corra –
produza, produza, produza – consuma, consuma, consuma é o que dita a voz
imperativa do Outro, do Capital para adquirirmos os gadgets que nos farão
sentir poderosos, admirados e, como consequência, reconhecidos e amados.
produza, produza, produza – consuma, consuma, consuma é o que dita a voz
imperativa do Outro, do Capital para adquirirmos os gadgets que nos farão
sentir poderosos, admirados e, como consequência, reconhecidos e amados.
É esse o modelo do eu
ideal e do ideal do eu imposto na contemporaneidade.
ideal e do ideal do eu imposto na contemporaneidade.
Imposto e aceito pelo
“coro dos contentes”, como lembrou M.R.Kehl. É a padronização deste modelo como
único para sermos e ou demostrarmos como somos bem-sucedidos, portanto felizes
e aceito pelo clube dos normais (modelo NEXTEL de mundo?). E se não seguir o
modelo de sucesso, que aqui é bem diferente de realização, OUT !!! Você
está fora, à margem. E nesta marginalidade você será acusado de fracassado,
mesmo alegando que quase chegou lá. O quase não entra neste coro, tem um clube
próprio na periferia da vida, o clube dos deprimidos, o triste e escuro Clubes
dos Quase. No máximo, vá tomar umas pílulas de felicidade e tente voltar depois
que fizer efeito.
“coro dos contentes”, como lembrou M.R.Kehl. É a padronização deste modelo como
único para sermos e ou demostrarmos como somos bem-sucedidos, portanto felizes
e aceito pelo clube dos normais (modelo NEXTEL de mundo?). E se não seguir o
modelo de sucesso, que aqui é bem diferente de realização, OUT !!! Você
está fora, à margem. E nesta marginalidade você será acusado de fracassado,
mesmo alegando que quase chegou lá. O quase não entra neste coro, tem um clube
próprio na periferia da vida, o clube dos deprimidos, o triste e escuro Clubes
dos Quase. No máximo, vá tomar umas pílulas de felicidade e tente voltar depois
que fizer efeito.
Obs.: não parece que o
sujeito, na depressão, se demitiu da vida?
sujeito, na depressão, se demitiu da vida?
Uma pausa para
reflexão…
reflexão…
Dá para perceber que na
contemporaneidade não há muito espaço (lugar e tempo) para você ser você mesmo?
Afinal, se fugir do padrão, se “desafinar o coro dos contentes” (Torquatto
Neto) o que poderão pensar de ti? Parece que hoje em dia, na contemporaneidade,
não se permite ficar triste, pois a tristeza é vista – quase – como um defeito
moral, como uma deformidade do humano cuja estabilização química é confiada aos
psicofármacos para sermos “devolvidos”, o mais rápido possível – tempo é
dinheiro – para o circuito midiaticamente imposto.
contemporaneidade não há muito espaço (lugar e tempo) para você ser você mesmo?
Afinal, se fugir do padrão, se “desafinar o coro dos contentes” (Torquatto
Neto) o que poderão pensar de ti? Parece que hoje em dia, na contemporaneidade,
não se permite ficar triste, pois a tristeza é vista – quase – como um defeito
moral, como uma deformidade do humano cuja estabilização química é confiada aos
psicofármacos para sermos “devolvidos”, o mais rápido possível – tempo é
dinheiro – para o circuito midiaticamente imposto.
Só para lembrar: Ao
patologizar a tristeza, perde-se um importante saber sobre a dor de viver.
patologizar a tristeza, perde-se um importante saber sobre a dor de viver.
O pior que aceitamos
tudo isso para não sermos excluídos do clube dos “normais” e será – por temor a
isto – que insistimos em ser o que o Outro gostaria que eu fosse? Tentamos ser
e fazer o que o Outro deseja somente para satisfazê-lo e consequentemente
reconhecidos e amados? Será por isto?
tudo isso para não sermos excluídos do clube dos “normais” e será – por temor a
isto – que insistimos em ser o que o Outro gostaria que eu fosse? Tentamos ser
e fazer o que o Outro deseja somente para satisfazê-lo e consequentemente
reconhecidos e amados? Será por isto?
Voltando para a
sociedade…
sociedade…
Acontece que na nossa
sociedade contemporânea, a do capital, somos “programados” pela voz imperativa
que diz a todo instante: consuma !!!
sociedade contemporânea, a do capital, somos “programados” pela voz imperativa
que diz a todo instante: consuma !!!
E este sistema não
tolera quem sai do mundo de Matrix, não permite que você seja você mesmo
principalmente se não coincidir com o modelo padrão imposto pela mídia. Está –
interruptamente – nos bombardeando para sermos o que interessa a ele:
consumidores.
tolera quem sai do mundo de Matrix, não permite que você seja você mesmo
principalmente se não coincidir com o modelo padrão imposto pela mídia. Está –
interruptamente – nos bombardeando para sermos o que interessa a ele:
consumidores.
E qual o modelo padrão?
É o modelo que aparece na mídia como o “bem- sucedido”.
É o modelo que aparece na mídia como o “bem- sucedido”.
Você “tem que” ser o
cara. Tem que ser aquele que produz mais para ser aquele que compra mais, que
gaste mais, que possua mais, que sorria mais, que demonstre mais prazer, mais
feliz, etc… Também ser o mais esperto, o mais divertido, o mais articulado, o
mais viajado, o mais bem relacionado, o possuidor do maior números de
seguidores nas redes sociais, ter maior números de amigos e ser o mais
“curtido” no facebook (sim, pessoas se deprimem por falta disso), ser o mais
convidado paras festas, eventos, etc… Enfim, você tem que ser o cara!
cara. Tem que ser aquele que produz mais para ser aquele que compra mais, que
gaste mais, que possua mais, que sorria mais, que demonstre mais prazer, mais
feliz, etc… Também ser o mais esperto, o mais divertido, o mais articulado, o
mais viajado, o mais bem relacionado, o possuidor do maior números de
seguidores nas redes sociais, ter maior números de amigos e ser o mais
“curtido” no facebook (sim, pessoas se deprimem por falta disso), ser o mais
convidado paras festas, eventos, etc… Enfim, você tem que ser o cara!
E aí de nós se não
lutarmos para ser o que o capitalismo espera de nós, parece que não seremos
mais nada. Numa visão eclipsada, não teremos o sonhado reconhecimento dos pais,
o respeito dos filhos (pai sem dinheiro é pai fraco?), o amor do cônjuge, a
admiração dos amigos, dos colegas, dos vizinhos (olha o carro velho dele, que
horror)… é por aí .
lutarmos para ser o que o capitalismo espera de nós, parece que não seremos
mais nada. Numa visão eclipsada, não teremos o sonhado reconhecimento dos pais,
o respeito dos filhos (pai sem dinheiro é pai fraco?), o amor do cônjuge, a
admiração dos amigos, dos colegas, dos vizinhos (olha o carro velho dele, que
horror)… é por aí .
E foi em busca deste
modelo impostor (imposto pela dor) de sucesso, ou no mínimo, para fugir do
famigerado rótulo de fracassado fixado pela sociedade contemporânea que abrimos
mão, muitas vezes, de nossos sonhos, de nossos desejos. Para quê?
modelo impostor (imposto pela dor) de sucesso, ou no mínimo, para fugir do
famigerado rótulo de fracassado fixado pela sociedade contemporânea que abrimos
mão, muitas vezes, de nossos sonhos, de nossos desejos. Para quê?
Somente para satisfazer
as demandas do Outro em troca do amor que supomos que somos merecedores e que
este nos fará completos? Santa ilusão? Santa ingenuidade?
as demandas do Outro em troca do amor que supomos que somos merecedores e que
este nos fará completos? Santa ilusão? Santa ingenuidade?
É nítido que na vida
contemporânea saímos “do direito à saúde e à alegria [e] passamos à obrigação
de ser felizes”. (Danièle Silvestre)
contemporânea saímos “do direito à saúde e à alegria [e] passamos à obrigação
de ser felizes”. (Danièle Silvestre)
Gente… o Outro não
pode nos completar, visto que ele também é incompleto. É aí que, mesmo
alcançado o Olimpo do capitalismo ou quase, percebemos que o ideal está num
outro patamar, no patamar do inacessível. Por isso é ideal. E, juntamente, com
esta descoberta vem a frustração, a decepção. Esquecemos ou não quisermos
acreditar em Freud que disse que a felicidade plena não estava nos planos da
criação. E aí damos conta que abrimos mão dos nossos sonhos, dos nossos desejos
à toa. Desde os aparentemente mais simples como tirar um dia de folga para
brincar com os filhos, de nos autorizarmos em ter um dia de ócio, de passear
num parque, de jogar conversa fora com os amigos… aos mais difíceis,
como o modo que escolhermos a nossa própria profissão, por exemplo. Também
abrimos mão de chorarmos as nossas perdas, os nossos amores até de fazermos o
luto necessário de nossos entes queridos como deveria, pois tempo é dinheiro.
pode nos completar, visto que ele também é incompleto. É aí que, mesmo
alcançado o Olimpo do capitalismo ou quase, percebemos que o ideal está num
outro patamar, no patamar do inacessível. Por isso é ideal. E, juntamente, com
esta descoberta vem a frustração, a decepção. Esquecemos ou não quisermos
acreditar em Freud que disse que a felicidade plena não estava nos planos da
criação. E aí damos conta que abrimos mão dos nossos sonhos, dos nossos desejos
à toa. Desde os aparentemente mais simples como tirar um dia de folga para
brincar com os filhos, de nos autorizarmos em ter um dia de ócio, de passear
num parque, de jogar conversa fora com os amigos… aos mais difíceis,
como o modo que escolhermos a nossa própria profissão, por exemplo. Também
abrimos mão de chorarmos as nossas perdas, os nossos amores até de fazermos o
luto necessário de nossos entes queridos como deveria, pois tempo é dinheiro.
E em muitos casos virá a
culpa como questão: O que eu fiz da minha vida? Fiz o que quiseram que eu
fizesse e, pior, com minha permissão, com a minha submissão em troca do que não
veio… Sou culpado de abrir mão de meu desejo. Sou culpado por acreditar na
promessa fantasística de completude.
culpa como questão: O que eu fiz da minha vida? Fiz o que quiseram que eu
fizesse e, pior, com minha permissão, com a minha submissão em troca do que não
veio… Sou culpado de abrir mão de meu desejo. Sou culpado por acreditar na
promessa fantasística de completude.
Culpa que, oriunda da
cultura judaica/cristã, precisa ser reparada via sofrimento, via expiação.
cultura judaica/cristã, precisa ser reparada via sofrimento, via expiação.
Para Lacan, a legítima
culpa neurótica é a de ter cedido ao seu desejo.
culpa neurótica é a de ter cedido ao seu desejo.
Bom… crime e castigo?
Será que é aí, por esta
via, que entramos na depressão?
via, que entramos na depressão?
Depressão como forma de
nos punir por nossa entrega cega na promessa do Outro, do capitalismo, de nos
fazermos felizes?
nos punir por nossa entrega cega na promessa do Outro, do capitalismo, de nos
fazermos felizes?
Como autopunição por nos
deixarmos encantar?
deixarmos encantar?
E autoflagelar-se seria
a via de acesso para a redenção?
a via de acesso para a redenção?
Ou, como muitas vezes
acontece, o ato de se flagelar se transformaria em mais um lugar de gozo, agora
de um gozo masoquista moral? Então, somos também o nosso próprio sádico?
acontece, o ato de se flagelar se transformaria em mais um lugar de gozo, agora
de um gozo masoquista moral? Então, somos também o nosso próprio sádico?
E o “coitadinho de mim”
pode se fixar por este gozo?
pode se fixar por este gozo?
Bem… o prende
uma pessoa fixando-a numa posição é o gozo.
uma pessoa fixando-a numa posição é o gozo.
Porém, nem todos tem o
mesmo tipo de resposta.
mesmo tipo de resposta.
Um lembrete tá gente:
Freud nos ensina que o
tipo da resposta de nossas escolhas depende da especificidade de cada sujeito e
da singularidade da interação entre constituição psíquica, circunstâncias do
ambiente, da história de cada um e mais o acidental. Sem esquecer a biologia.
Hoje a última definição de Ser Humano da OMS (Organização Mundial de Saúde) diz
que o Humano é um ser bio-psico-social religioso/espiritual.
tipo da resposta de nossas escolhas depende da especificidade de cada sujeito e
da singularidade da interação entre constituição psíquica, circunstâncias do
ambiente, da história de cada um e mais o acidental. Sem esquecer a biologia.
Hoje a última definição de Ser Humano da OMS (Organização Mundial de Saúde) diz
que o Humano é um ser bio-psico-social religioso/espiritual.
E como trabalhamos a
depressão na clínica psicanalítica?
depressão na clínica psicanalítica?
Supondo que seria esta a
pergunta que vocês gostariam de me fazer…
pergunta que vocês gostariam de me fazer…
Bem, primeiro é escutar
quem nos procura como nosso primeiro e único paciente…
quem nos procura como nosso primeiro e único paciente…
É… muitos chegam até
nós por não conseguirem mais subjetivar suas experiências e vivências, não
conseguirem mais transformar em matéria simbólica, as pancadas, os choques da
vida contemporânea e acabam experienciando uma espécie de vazio existencial, da
dor de viver, de tédio e alguns por não conseguirem lidar com o que se mostrou
insuportável sucumbiram e foram para debaixo da cama ou no mínimo das cobertas
mesmo, literalmente falando.
nós por não conseguirem mais subjetivar suas experiências e vivências, não
conseguirem mais transformar em matéria simbólica, as pancadas, os choques da
vida contemporânea e acabam experienciando uma espécie de vazio existencial, da
dor de viver, de tédio e alguns por não conseguirem lidar com o que se mostrou
insuportável sucumbiram e foram para debaixo da cama ou no mínimo das cobertas
mesmo, literalmente falando.
Muitos também procuram
porque não aguentam mais a pobreza da vida interior, que se empobreceu
justamente pelo uso prolongado dos psicofármacos. Outros, porque acham que os
antidepressivos não proporcionaram os efeitos esperados, ou deixaram de fazer
efeito depois de um longo tempo de uso. Ou porque o tratamento somente por essa
via dos remédios, não os deixaram totalmente inapetentes, sem vontade, sem
desejo para falar.
porque não aguentam mais a pobreza da vida interior, que se empobreceu
justamente pelo uso prolongado dos psicofármacos. Outros, porque acham que os
antidepressivos não proporcionaram os efeitos esperados, ou deixaram de fazer
efeito depois de um longo tempo de uso. Ou porque o tratamento somente por essa
via dos remédios, não os deixaram totalmente inapetentes, sem vontade, sem
desejo para falar.
Interessante é que o
depressivo é – e ou está – mais acessível ao seu saber inconsciente do
que os neuróticos “normais”.
depressivo é – e ou está – mais acessível ao seu saber inconsciente do
que os neuróticos “normais”.
Há todo um trabalho de
desconstrução e reconstrução, de ressignificação de vivências, experiências, de
valores para que um novo possa ser construído, possa surgir na experiência
analítica.
desconstrução e reconstrução, de ressignificação de vivências, experiências, de
valores para que um novo possa ser construído, possa surgir na experiência
analítica.
“É preciso convidar o
depressivo a ter coragem de apostar em alguma construção de sentido para
contrapor ao vazio de sentido que o abate” (Kehl pensando com Soler)
depressivo a ter coragem de apostar em alguma construção de sentido para
contrapor ao vazio de sentido que o abate” (Kehl pensando com Soler)
E convidá-lo “…a
construir uma via que o represente como um sujeito desejante”, sem esquecer que
é o paciente quem deve colocar, pôr, significantes ali nessa construção e não a
sugestão do analista, pois sobre o analisando nada sabemos, que somos doutos
porém ignorantes. O que fazemos é auxiliá-lo nessa construção, muitas vezes
ampliando-lhe o leque de opções e de suas consequências. Porém, já com os
recursos adquiridos, a escolha será dele assim como a responsabilidade por ela.
E, muito importante, sempre respeitando o tempo do sujeito, o tempo psíquico e
não o cronológico.
construir uma via que o represente como um sujeito desejante”, sem esquecer que
é o paciente quem deve colocar, pôr, significantes ali nessa construção e não a
sugestão do analista, pois sobre o analisando nada sabemos, que somos doutos
porém ignorantes. O que fazemos é auxiliá-lo nessa construção, muitas vezes
ampliando-lhe o leque de opções e de suas consequências. Porém, já com os
recursos adquiridos, a escolha será dele assim como a responsabilidade por ela.
E, muito importante, sempre respeitando o tempo do sujeito, o tempo psíquico e
não o cronológico.
E para finalizar este
Pensar Psicanálise, vou de Titãs novamente:
Pensar Psicanálise, vou de Titãs novamente:
Quem espera que a vida
Toda pedra do caminho
Saber viver, saber viver!
É isso !!!
Bibliografia utilizada e
não mencionada:
não mencionada:
Sobre Ética e
Psicanálise – Maria Rita Kehl
Psicanálise – Maria Rita Kehl
O Tempo e o Cão – Maria
Rita Kehl
Rita Kehl
Dos Benefícios da
Depressão – Pierre Fédida
Depressão – Pierre Fédida
Depressão – Pierre Fédida
Depressão –
Clíninc Psicanalítica – Daniel Delouya
Clíninc Psicanalítica – Daniel Delouya
Apresentado em
março/2013 no Pensar Psicanálise do ILPC – Instituto Latino-americano de
Psicanálise Contempôranea
março/2013 no Pensar Psicanálise do ILPC – Instituto Latino-americano de
Psicanálise Contempôranea