Donald Winnicott

Este médico inglês enfatizou a importância de brincar e de
criar para a criança

Frases de Donald
Winnicott: 

“O precursor do espelho é o rosto da mãe.” 

“O buscar só pode vir a partir do funcionamento amorfo
e desconexo, ou talvez do brincar rudimentar, como se em uma zona neutra. É
apenas aqui, nesse estado não integrado da personalidade, que o criativo, tal
como o descrevemos, pode emergir.”
O psicanalista Donald Winnicott trabalhava com
crianças separadas de suas famílias em consequência da Segunda Guerra Mundial quando
encontrou um interessante campo de estudo que lhe permitiu perceber etapas
fundamentais do desenvolvimento da pessoa. Donald Winnicott constatou, por
exemplo, a importância do brincar e dos primeiros anos de vida na construção da
identidade pessoal. As conclusões a que ele chegou são preciosas para o
trabalho dos educadores. 
Boa parte dos conceitos de Winnicott se refere ao
“desenvolvimento emocional primitivo”, cujos efeitos, segundo ele,
são de importância crucial para o indivíduo por se estenderem para além da
infância. Muitos problemas da fase adulta estariam vinculados a disfunções
ocorridas entre a criança e o “ambiente”, representado geralmente
pela mãe. 
Os conceitos de verdadeiro e falso self (em inglês, palavra
que se refere à própria pessoa) são um bom exemplo. “O self se forma com
base nas experiências que o bebê acumula”, diz o psicanalista Davy
Bogomoletz, de São Paulo. “É aquilo que, embora indefinível, faz o
indivíduo sentir que ele é único.” A relação com a mãe leva o bebê a administrar
a própria espontaneidade e as expectativas externas. “Se a mãe aceitar as
manifestações do bebê – como a fome, o desconforto, o prazer e a vontade
-, em vez de impor o que acredita ser o certo, o bebê vai acumulando
experiências nas quais ele é sempre o sujeito, e o self que se forma pode então
ser considerado verdadeiro”, explica Bogomoletz. Porém o self construído
em torno da vontade alheia é o que Winnicott chama de falso e que priva o
indivíduo de liberdade e de criatividade. 
Aconchego e proteção 
Uma das frases famosas de
Winnicott é “não existe essa coisa chamada bebê”, querendo dizer que
não há criança sem uma mãe (que não precisa ser necessariamente a que deu à
luz). Vem daí a idéia da “mãe suficientemente boa”, aquela cuja
percepção – consciente ou inconsciente – das necessidades do bebê a
leva a responder adequadamente aos diferentes estágios do desenvolvimento dele.
Isso faz com que se crie um ambiente – nomeado por Winnicott de holding
(cuja melhor tradução para o português, segundo Bogomoletz, seria
“colo”) – propício a um processo de formação de um ser humano
independente. “O holding é o somatório de aconchego, percepção, proteção e
alegria fornecidos pela mãe”, diz ele. Começa como algo vital, como o
oxigênio e a alimentação, e se dilui conforme o bebê cresce. 
“Os educadores devem fornecer holding no ambiente
escolar”, segundo Bogomoletz. Isso significa tratar cada aluno como ele
precisa. O termo “inclusão”, se levado a sério, indica uma atitude de
holding. O acolhimento adequado pode, portanto, ajudar uma criança regida por
um self falso – geralmente boazinha e obediente – a se tornar mais
espontânea. “No entanto, é preciso que a escola aceite as temporadas de
‘mau comportamento’. “Trata-se de adotar sempre uma postura tolerante e
criar condições para que a criança desfrute de liberdade. Nada mais importante,
nesse sentido, do que o papel da brincadeira – fundamental para Winnicott,
não apenas na infância, por misturar e conciliar o manejo do mundo objetivo e a
imaginação. “Brincar pressupõe segurança e criatividade”, diz
Bogomoletz. “Crianças com problemas emocionais graves não brincam, pois
não conseguem ser criativas.”
O cobertorzinho
O movimento da psique entre o
mundo das coisas e as fabricações da mente é uma atividade
“transicional”, adjetivo fundamental na obra de Winnicott. O conceito
mais conhecido é o de “objeto transicional”, representado
classicamente pelo cobertorzinho a que muitos pequenos se agarram numa
determinada fase. “Esse objeto é ao mesmo tempo uma coisa objetiva –
existe num mundo compartilhado – e subjetiva – para seu dono, ele faz
parte de uma fantasia, possui vida própria”, explica Bogomoletz. 
Dessa forma, o objeto transicional prolonga o período em que
o bebê se acredita onipotente, enquanto ele substitui essa crença com a
aceitação de uma realidade sobre a qual não tem controle nem pode modificar por
meio da imaginação. O bebê se vê com poderes mágicos e, com o tempo, percebe a
ilusão. Mas, com as brincadeiras e o aprendizado do mundo, a criança, o
adolescente e o adulto retêm o poder de criar e adaptam-se às possibilidades
reais. “A fantasia é realmente a marca do humano”, diz Bogomoletz.
“Já a objetividade é uma habilidade que se aprende, como uma segunda
língua.”
“A escola tem a obrigação de ajudar a criança a
completar essa transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito
de devanear, imaginar, brincar”, prossegue o psicanalista. O respeito que
os pequenos terão pela objetividade será incorporado por eles, jamais imposto
de fora para dentro. Quando livres para criar, eles, segundo Winnicott, vêem no
estudo um modo de exercitar o poder de invenção. Se, no entanto, o ambiente
escolar não for aberto à brincadeira, “os recreios serão tanto mais
selvagens quanto as aulas forem mais opressoras ou supostamente
sérias”. 
Formação nos campos de
guerra
Donald Woods Winnicott nasceu
em 1896 numa família rica de comerciantes em Plymouth, na Inglaterra. Ao entrar
na faculdade de Medicina, foi convocado para servir como enfermeiro na Primeira
Guerra Mundial, na qual fez as primeiras observações sobre o comportamento
humano em situações traumáticas. Especializou-se em pediatria, trabalhando 40
anos no Hospital Infantil Paddington. Paralelamente, preparou-se para ser
psicanalista. Trabalhou como consultor psiquiátrico do governo, tratando de
crianças afastadas dos pais na Segunda Guerra Mundial. Em 1949, separou-se da
primeira mulher, a artista plástica Alice Taylor. Dois anos depois, casou-se
com Clare Britton, psicanalista e organizadora dos trabalhos do marido. Foi
presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e morreu em Londres, em
1971. 
Análise da própria
infância e marcas da psicanálise 

O interesse de Winnicott pelo estudo da construção da
identidade veio da percepção da influência sufocante da mãe depressiva em sua
personalidade. Ainda criança, Winnicott enveredou pelos caminhos da observação
científica ao ler os estudos do naturalista Charles Darwin (1809-1892). Já
pediatra, conheceu a obra de Sigmund Freud (1856-1939), fez terapia e
freqüentou o grupo de Bloomsbury – integrado, entre outros, pela escritora
Virginia Woolf (1882-1941) -, em que a psicanálise era tema recorrente. Seu
trabalho chega ao Brasil com a criação de várias instituições winnicottianas.



Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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