A dúvida e o medo não permitem que possam respeitar o tempo do desejo de cada um, de tal forma que primeiro temos uma cena na qual Margot não corresponde ao desejo sexual do marido e numa segunda cena ele faz o mesmo. O que poderia ser vivido apenas como um desencontro, caso não houvesse sentimentos reprimidos entre ambos, é vivido por cada um como uma rejeição. A diferença é que Margot ao dizer que não quer avançar para uma relação sexual percebe que o marido ficou aborrecido, nomeia isto e pede desculpas, enquanto Lou não apenas não corresponde ao desejo dela como não o reconhece. Ele não corresponde à tentativa de sedução da esposa por supostamente estar impedido de fazê-lo ao se ocupar da preparação do jantar, inconsciente de que a rejeita por ter se sentido rejeitado anteriormente. Tal negação do que está sendo vivido entre eles mergulha Margot num profundo desespero já que fazendo isso Lou nega a realidade a tal ponto que ela fica totalmente sozinha e no lugar de quem está delirante. Em sinal de desespero Margot chora e o marido diz: “Eu estou apenas fazendo o frango?”. Perguntamo-nos por qual motivo Lou seria tão cruel com a esposa pela qual está envolvido e imaginava viver o restante da vida? Em outro momento diz a ela: “Em algum lugar eu sabia que alguma coisa não estava bem, mas acho que apenas esperava passar.”
Os mecanismos de defesa inconscientes servem para que o psiquismo se proteja de lidar com certos sentimentos que seriam vividos como intoleráveis ou dolorosos pelo ego(eu). Todos nós os utilizamos, porém o que vemos é o mecanismo da negação sendo utilizado até as últimas consequências. Lou não reconhece seus sentimentos nem os da sua mulher, não a vê.
Em sucessivas cenas Margot busca a atenção do marido, quando ele está ao telefone, cozinhando, no restaurante com ele, porém esse está distante.
Margot busca alguém que a veja, a ouça, a ame, mas como uma criança deixa-se embalar nos movimentos do carrossel que levam à vertigem, mas são temporários.
como correspondência do nosso olhar.
“Take this Waltz” de Leonard Cohen
un hombro donde solloza la muerte
y un bosque de palomas disecadas.
Hay un fragmento de la mañana
en el museo de la escarcha.
Hay un salón con mil ventanas.
¡Ay, ay, ay, ay!Toma este vals con la boca cerrada.
Este vals, este vals, este vals, este vals,
de sí, de muerte y de coñac
que moja su cola en el mar.
Te quiero, te quiero, te quiero,
con la butaca y el libro muerto,
por el melancólico pasillo,
en el oscuro desván del lirio,
en nuestra cama de la luna
y en la danza que sueña la tortuga.
¡Ay, ay, ay, ay!Toma este vals de quebrada cintura.
En Viena hay cuatro espejos
donde juegan tu boca y los ecos.
Hay una muerte para piano
que pinta de azul a los muchachos.
Hay mendigos por los tejados,
hay frescas guirnaldas de llanto.
¡Ay, ay, ay, ay!Toma este vals que se muere en mis brazos.
Porque te quiero, te quiero, amor mío,
en el desván donde juegan los niños,
soñando viejas luces de Hungría
por los rumores de la tarde tibia,
viendo ovejas y lirios de nieve
por el silencio oscuro de tu frente.
¡Ay, ay, ay, ay!Toma este vals, este vals del “Te quiero siempre”.
En Viena bailaré contigo
con un disfraz que tenga cabeza de río.
¡Mira qué orillas tengo de jacintos!
Dejaré mi boca entre tus piernas,
mi alma en fotografías y azucenas,
y en las ondas oscuras de tu andar
quiero, amor mío, amor mío, dejar,violín y sepulcro, las cintas del vals.
(Frederico Garcia Lorca – Pequeño Vals Vienés)