Eu, mamãe e os meninos


“É genial.
Acabei de perceber algo incrível. 
De fato, o que distingue as mulheres é a sua forma de respirar.  
Sim.
É mais macio.
Variável.
Menos linear, uniforme.
É isso.
A respiração de uma mulher varia o tempo todo
depende se estar emocionada ou concentrada osedutora ou charmosa…”




A origem do filme Eu, mamãe e os meninos (Les Garçons
et Guillaume, à table!) é uma peça
solo de Gallienne inspirada  na sua história pessoal, sendo que nesse
 interpreta a si mesmo e sua mãe, o que é muito conveniente para expressar a alienação no desejo materno da qual parte a trajetória do personagem rumo a uma escolha alicerçada no próprio desejo. A comédia ganhou cinco categorias do César na França,
incluindo melhor filme e melhor ator.
O nome do filme em francês é a
frase que a mãe usava para chamar o protagonista e os irmãos à mesa. Guillaume era assim diferenciado dos irmãos, mas ao sê-lo era retirado da categoria de meninos! 
 
Nas suas fantasias ele era a menina desejada, a mãe, Sissi. Imitava a mãe tão bem que numa cena, a avó materna está de
costas e este responde “com a voz materna” . A avó prossegue e apenas ao se virar descobre que é o neto.
  Então de forma cifrada o alerta que não deve
se enganar e se lamentar, mas ainda Guillaume tem um longo caminho a percorrer, terá que se deparar com medos e  descobrir alguns véus.
A mãe havia desejado uma
menina, os irmãos o rotulam de homossexual, o pai rejeita seus trejeitos
afeminados, percebendo que há um consentimento da mãe, mas sem se aproximar do
filho, apenas o envia para o mais longe. 
O filme, nos
faz pensar, antes  da posição sexuada e da
 escolha de objeto temos que nos
constituir, simplesmente SER. Quem é Guillaume? Ele imita a mãe, seus trejeitos,
sua voz, seu andar. É para se diferenciar que a imita, para ser tão grande
quanto ela. Ser o falo. Não para ser mulher, se o fosse, seria transexual.
Guillarme busca ser um entre muitos, ser diferente, não ser igual. Ser menina
seria uma resposta ao desejo da mãe, mas também o diferenciaria, já que naquela
família ser um menino não foi um lugar que ao nascer lhe foi destinado como
atrativo ou positivo, ele também não pode o positivar.
Numa cena temos Guilhaume Gallienne perguntando : Mamãe, dei
de cara com meu primeiro amor hoje! Lembra da Ana?”, sua mãe responde: “Como
ele está?”. È um lapso que diz do desejo da mãe que o filho fosse uma menina ou
não amasse outra que não ela? Ambas as coisas podiam ser possíveis se ele fosse
uma menina!!! Mas Guilhaume não é uma menina!!!
Guilharme sai do lugar de alienação do desejo materno e de ter raiva de parecer o que todos dizem que é e parte em na busca de saber quem é e qual é o seu desejo.
Nascemos num corpo biologicamente sexuado, mas a posição
sexuada feminina/masculina e a escolha pela homossexualidade ou heterossexualidade  ocorre no caminho, entre este primeiro amor à mãe, que pode ser esta mulher
que jorra igual “Cataratas do Iguaçu” (fala da personagem no filme ao ir ao
banheiro), é portanto, não é exatamente uma 
mulher. É necessário reconhecê-la “envergonhada” (fala do personagem, que aqui utilizarmos como similar a não-completa, fálica), não-toda…para podermos amarmos a nós mesmos e a uma outra pessoa.

Ana Amorim de Farias, 14/12/2014
Psicóloga e Psicanalista 
Adultos e Casais 

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

Compartilhe

Facebook
WhatsApp
E-mail