Hemel (que significa céu em holandês) é um sensível drama de 2012, estrelado pela jovem atriz Hannah Hoekstra e Hans Dagelet (Gijs), dirigido por Sacha Polak.
O filme se destaca pela poética fotografia e crua realidade das dificuldades do relacionamento do pai Gigs com sua filha Hemel.
Gigs cria sua filha sozinho após um caso passageiro em que a mãe da criança comete suicídio. Não estabelece uma relação de amor com outra mulher, tendo várias tentativas ao longo da vida até sua filha se tornar adulta. Hemel torna-se uma jovem agressiva, provocativa, mantendo uma vida sexual com diferentes parceiros evitando qualquer tipo de envolvimento afetivo. Em uma das cenas em que um homem é carinhoso após terem relação sexual ela diz: “você não precisa fazer isso.” Diz que não gosta de pós-preliminares e acaba por pedir para ele sair.
Hemel se identifica com o pai, mas sem perceber que o padrão do pai é menos rígido. Ele mantém relações sexuais/afetivas por um tempo, é monogâmico, embora não consiga se entregar a uma relação plenamente, enquanto ela evita qualquer intimidade. O único padrão de amor que Hemel conhece é adoecido, é o amor que ambos tem um pelo outro e que os prende, um amor fusional, que não delimita os espaços, que funde um ao outro e por isso é agressivo, difícil, traiçoeiro.
Em uma das cenas vemos Hemel chegar e o pai ignorá-la enquanto continua a tocar trompete. Ela o abraça pelas costas e o beija no pescoço, ele lhe chama a atenção preocupado que ela tenha sujado de batom sua camisa, logo estão no chão brincando de lutar, como se ela fosse um filho homem, ao mesmo tempo a cena remete a uma intimidade de casal. Nesta cena e ao longo do filme fica a sensação embaraçosa para o espectador de ver pai e filha emaranhados nas teias de um amor onde um pai não soube barrar o amor edípico de sua filha, embora a tenha amado como filha e cuidado dela, o que temos conhecimento na última cena. Teria sido a ausência na sua vida da vivência de amar e ser amado por uma mulher que o teria impedido de barrar este amor da filha para além do amor ao pai-homem? Possivelmente.

Abaixo um trecho do filme onde o pai revela a filha que irá morar com Sophie e ambos discutem sobre o tema amor.
Pai: Vou morar com Sophie
Filha: Ela é a mulher certa?
Pai: Acho que sim.
Filha: Onde
Pai :Em nossa casa
Filha:“Nossa” com “você e eu” ou com “você e ela”?
Pai: Nossa com “minha casa”. Você tem sua casa. Você pode ficar com o seu quarto, é claro.
Filha: Por que vai morar com ela? Nunca fez isso antes. Por que a ama?
Pai: Eu sinto que não preciso esconder nada pela primeira vez na vida.
Filha: Isso é amor? Para mim amor é querer saber tudo que o outro sabe, ser a mesma pessoa que ele por dentro.
Pai: Acho que as diferenças são o mais interessante.
Ana A Farias, 22/09/2013