“Ao se percorrer o constructo teórico de Winnicott, é possível perceber que existe uma lógica etiológica na formação dos distintos medos que incide no diferencial em seu teor e intensidade. Essa configuração diferencial confere ao medo o status daquele que porta uma mensagem e que, portanto, deve ser considerado na formulação diagnóstica. À sua manifestação, subjaz uma ansiedade que, de forma geral, faz parte da normalidade. Mesmo na doença, aponta uma possibilidade, pois é passível de cuidado. Nesse entendimento, é a ausência de medo que indica adoecimento (cf. 1938b/1982, p. 242). Essa condição confere ao medo o caráter de conquista. No entanto, mesmo sob uma observação ainda superficial, é possível diferenciar o significado do afeto naquele indivíduo que convive com medo daquele que sente alguns medos. Nesse sentido, é imperativo compreender que o sentido de segurança é construído nas fases iniciais através do padrão de confiabilidade no qual os cuidados ambientais maternos foram dados. Compreende-se o sentido de segurança como aquele que abrange tanto a crença em si mesmo como a crença nos outros. Sem essa conquista, não se pode falar em segurança e, por consequência, nem em medo como um recurso de alerta diante de uma ameaça à segurança. Após a aquisição de segurança, os próprios movimentos rumo à liberdade de ser e de se expressar em sua pessoalidade se inscrevem numa linha temporal de batalha contra a segurança total, provida inicialmente apenas pelo ambiente (cf. 1993a/1999, pp. 101-107).”
Pondé, Danit Zeava Falbel. (2011). O conceito de medo em Winnicott. Winnicott e-prints, 6(2), 82-131.