“Contudo, se o seu desejo é forte, o desejo do Outro também se apresenta como onipotente e o obsessivo sente-se ameaçado diante desta onipotência. Teme o confronto com o desejo onipotente do Outro, que o ameaça de aniquilamento, ao mesmo tempo em que se coloca o dilema de sua destruição. Destruir o Outro o protegeria de ser liquidado pelo seu desejo, entretanto, a medida de sua dependência deste Outro, o seu aniquilamento, o seu aniquilamento, significaria a sua própria destruição. Assim, como medida de proteção, o obsessivo coloca o desejo dentro da dimensão da impossibilidade e desenvolve toda especie de escapatórias para não se confrontar com o desejo. O seu movimento é matar o desejo, já que a sua proximidade o deixa absolutamente desprotegido. É esse movimento de destruição que o leva a um superinvestimento da dimensão significante como estrategia para manter o Outro vivo, dai a excessiva racionalização e o universo de duvidas e abstrações a que se encontra submetido. É o império do pensamento. O obsessivo sufoca o desejo por excesso de pensamento.”
(Urania Tourinho Peres. “A Morte é um Ato Falho”. In Mosaico de Letras: ensaios de psicanálise. Ed. Escuta. Rio de Janeiro, 1999, p. 115)