É comum encontrar pais
que estendem os cuidados que têm com os filhos durante a infância para outras
fases da vida. Na adolescência, por exemplo, continuam a levá-los para escola
e, mesmo o estudante cursando o ensino médio, tomam todas as providências dos
trabalhos escolares e cuidam de afazeres domésticos que o jovem, teoricamente,
teria de fazer, como arrumar a cama e organizar o quarto.
Em muitos casos,
quando os filhos atingem a idade adulta, os pais seguem tomando conta de coisas
que eles deveriam assumir, como marcar consultas médicas, pagar contas no
banco, licenciar o carro, fazer o Imposto de Renda etc. Ou seja, demandas de
qualquer adulto. Alguns são bem-sucedidos profissionalmente e financeiramente
independentes, mas preferem ficar sob os cuidados paternos em determinados
aspectos.
Antes de buscar
compreender o que há por trás dessa dinâmica familiar, a psiquiatra Julieta
Mejia Guevara, diretora da Neurohealth – Centro de Métodos Biológicos em
Psiquiatria, do Rio de Janeiro (RJ), observa que a questão tem um viés
cultural.
“Nossa cultura
paternalista faz parecer normal adultos de 40 anos morarem com os pais ou
retornarem ao lar parental após uma separação. Isso não só encoraja a
superproteção como a confunde com a expressão de afeto. É uma castração das
potencialidades que o filho venha a apresentar e da capacidade de pensar em
soluções para assuntos vitais”, comenta.
Eis um ponto crucial:
a responsabilidade dos envolvidos perante a situação. Antes de tachar os filhos
de folgados, é preciso analisar as razões que levam os pais a mantê-los
excessivamente protegidos.
“Os filhos são
frágeis? Os pais querem se sentir úteis? O fato é que as relações humanas são como
jogos com regras, as pessoas aceitam ou não jogar. Ninguém nasce folgado,
frágil, incompetente. Cada qual vai construindo sua forma de viver. A maneira
como pais e filhos lidam com os desafios da vida deve ser avaliada para as
saídas conduzam à maturidade da família”, diz a terapeuta familiar Edith
Rubinstein, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, de
São Paulo (SP).
A educação e o modo de criação dados pelos pais é determinante para a autonomia
dos filhos. “A superproteção é negativa, pois trata-se de uma forma de
mostrar que os pais não confiam que o filho dá conta de determinadas coisas.
Então, dificilmente contribuem para o desenvolvimento”, fala Quezia
Bombonatto, diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).
Os fatores que estão
por trás das atitudes superprotetoras são os mais diversos possíveis. Um deles
é a tentativa de compensar a rigidez com que foram criados. “Pessoas
educadas por pais autoritários procuram exercer o oposto com seus filhos,
baseadas na falsa ideia de que não se deve frustrar a criança ou o jovem. Só
que sem frustração não há desenvolvimento”, diz Ana Paula Magosso
Cavaggioni psicóloga da Clia Psicologia, Saúde e Educação, de Santo André (SP).
Outros consideram que
foram negligenciados na infância e tendem a agir de maneira extremamente
zelosa, para suprir as próprias necessidades, não as de seus filhos.
Segundo o terapeuta
familiar e de casal Luciano Passianotto, de São Paulo (SP), há, ainda, os pais
que, movidos por um desejo inconsciente e egoísta, querem que os filhos nunca
os abandonem, mantendo-os dependentes. “Em alguns casos, há um sentimento
de culpa por algo que eles julguem ter falhado com os filhos, levando a essa
compensação irresponsável. E existem aqueles que negam a possibilidade de um
dia virem a faltar, que é a ordem natural da vida”, conta.
que estendem os cuidados que têm com os filhos durante a infância para outras
fases da vida. Na adolescência, por exemplo, continuam a levá-los para escola
e, mesmo o estudante cursando o ensino médio, tomam todas as providências dos
trabalhos escolares e cuidam de afazeres domésticos que o jovem, teoricamente,
teria de fazer, como arrumar a cama e organizar o quarto.
quando os filhos atingem a idade adulta, os pais seguem tomando conta de coisas
que eles deveriam assumir, como marcar consultas médicas, pagar contas no
banco, licenciar o carro, fazer o Imposto de Renda etc. Ou seja, demandas de
qualquer adulto. Alguns são bem-sucedidos profissionalmente e financeiramente
independentes, mas preferem ficar sob os cuidados paternos em determinados
aspectos.
compreender o que há por trás dessa dinâmica familiar, a psiquiatra Julieta
Mejia Guevara, diretora da Neurohealth – Centro de Métodos Biológicos em
Psiquiatria, do Rio de Janeiro (RJ), observa que a questão tem um viés
cultural.
paternalista faz parecer normal adultos de 40 anos morarem com os pais ou
retornarem ao lar parental após uma separação. Isso não só encoraja a
superproteção como a confunde com a expressão de afeto. É uma castração das
potencialidades que o filho venha a apresentar e da capacidade de pensar em
soluções para assuntos vitais”, comenta.
a responsabilidade dos envolvidos perante a situação. Antes de tachar os filhos
de folgados, é preciso analisar as razões que levam os pais a mantê-los
excessivamente protegidos.
frágeis? Os pais querem se sentir úteis? O fato é que as relações humanas são como
jogos com regras, as pessoas aceitam ou não jogar. Ninguém nasce folgado,
frágil, incompetente. Cada qual vai construindo sua forma de viver. A maneira
como pais e filhos lidam com os desafios da vida deve ser avaliada para as
saídas conduzam à maturidade da família”, diz a terapeuta familiar Edith
Rubinstein, coordenadora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, de
São Paulo (SP).
A educação e o modo de criação dados pelos pais é determinante para a autonomia
dos filhos. “A superproteção é negativa, pois trata-se de uma forma de
mostrar que os pais não confiam que o filho dá conta de determinadas coisas.
Então, dificilmente contribuem para o desenvolvimento”, fala Quezia
Bombonatto, diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).
por trás das atitudes superprotetoras são os mais diversos possíveis. Um deles
é a tentativa de compensar a rigidez com que foram criados. “Pessoas
educadas por pais autoritários procuram exercer o oposto com seus filhos,
baseadas na falsa ideia de que não se deve frustrar a criança ou o jovem. Só
que sem frustração não há desenvolvimento”, diz Ana Paula Magosso
Cavaggioni psicóloga da Clia Psicologia, Saúde e Educação, de Santo André (SP).
foram negligenciados na infância e tendem a agir de maneira extremamente
zelosa, para suprir as próprias necessidades, não as de seus filhos.
familiar e de casal Luciano Passianotto, de São Paulo (SP), há, ainda, os pais
que, movidos por um desejo inconsciente e egoísta, querem que os filhos nunca
os abandonem, mantendo-os dependentes. “Em alguns casos, há um sentimento
de culpa por algo que eles julguem ter falhado com os filhos, levando a essa
compensação irresponsável. E existem aqueles que negam a possibilidade de um
dia virem a faltar, que é a ordem natural da vida”, conta.
Construção da autonomia
Muitos pais só se dão
conta da superproteção quando os filhos crescidos se mostram dependentes além
da conta. O ideal seria que começassem a estimular a autonomia nos primeiros
anos. “Desde cedo é importante trabalhar o que a criança pode fazer
sozinha, possibilitando que ela tente, mesmo que as coisas não saiam perfeitas.
Se ela já tem condições de se alimentar sem ajuda, incentive, mesmo que faça
sujeira. Os pais não podem procurar desculpas para não ensinar a criança a ter
a própria independência”, declara Quezia Bombonatto.
Para o terapeuta
familiar Luciano, quem não prepara os filhos para uma vida independente não é
um bom cuidador, mesmo prestando todos os outros cuidados de forma
impecável. “Deve-se avaliar constantemente se o nível de maturidade dos
filhos é compatível com sua idade e intervir sempre que necessário, delegando
mais responsabilidades, por mais que isso doa. Isso é papel dos pais, não do
filho”, diz.
Ainda de acordo com
Luciano, é importante, também, evitar o medo excessivo do mundo. “Sim, ele
está cheio de pessoas más, perigo e violência, mas tem pessoas boas, prazeres e
descobertas fantásticas”, afirma ele.
“Há uma crença,
beirando a paranoia, de que o mundo atual é mais perigoso e de que as crianças
têm de ser mais protegidas. Só que isso está extrapolando para situações
desnecessárias, como ‘proteger’ o filho da terrível tarefa de arrumar a própria
cama, do perigosíssimo trajeto até a escola ou de enfrentar uma pavorosa fila
no banco. Se seu filho sempre tiver você para lidar com o valentão da escola,
nunca aprenderá a lidar com o valentão do escritório”, compara o
especialista.
Outro ponto essencial
apontado pela psicóloga Ana Paula é a dificuldade de certos pais em administrar
as mudanças típicas da adolescência. “Muitos não entendem um certo
afastamento natural que os filhos impõem e o confundem com falta de amor ou
ingratidão, passando a agir de forma superprotetora na tentativa de perpetuar
uma dependência já não mais saudável dessa relação”, fala.
A partir daí, alguns
pais e mães procuram a todo custo minimizar as dificuldades e responsabilidades
inerentes a um crescimento sadio. As consequências podem ser desastrosas, já
que adolescentes que crescem sem a menor noção de responsabilidade, de como se
cuidar, de como viver integralmente sem depender de terceiros que façam o
básico para sua sobrevivência, tornam-se adultos inseguros, imaturos e
dependentes.
Por esses motivos,
possivelmente é leviano chamar alguém de vinte e poucos anos (ou até mais) de
folgado ou preguiçoso porque a mãe ainda esquenta seu jantar ou o pai o auxilia
nas questões bancárias. Às vezes, a ajuda nem é solicitada –são os pais que
tomam a iniciativa de fazer as coisas. A pessoa se estagnou.
“O filho não se
incomoda porque se acomodou e não teve outra vivência”, diz Quezia.
“Mas muitos filhos também buscam manter os privilégios e regalias de uma
criança depois que crescem, e, assim, se sentem confortáveis”, completa
Luciano.
O resultado de tudo
isso é a incapacidade de analisar riscos para tomar decisões acertadas e de
assumir certas responsabilidades da vida adulta (simplesmente pela falta de
experiência e habilidade para lidar com questões muitas vezes simples, mas desagradáveis,
maçantes ou embaraçosas).
Adultos que não sabem
controlar suas próprias vidas dificilmente serão capazes de ensinar isso a seus
filhos. A quebra do padrão precisa vir deles, que devem tomar as rédeas da
própria vida. É preciso ter em mente, sobretudo, de que o mais cômodo, no fim
das contas, nem sempre é o mais fácil.
Fonte: mulher.uol.com.br
conta da superproteção quando os filhos crescidos se mostram dependentes além
da conta. O ideal seria que começassem a estimular a autonomia nos primeiros
anos. “Desde cedo é importante trabalhar o que a criança pode fazer
sozinha, possibilitando que ela tente, mesmo que as coisas não saiam perfeitas.
Se ela já tem condições de se alimentar sem ajuda, incentive, mesmo que faça
sujeira. Os pais não podem procurar desculpas para não ensinar a criança a ter
a própria independência”, declara Quezia Bombonatto.
familiar Luciano, quem não prepara os filhos para uma vida independente não é
um bom cuidador, mesmo prestando todos os outros cuidados de forma
impecável. “Deve-se avaliar constantemente se o nível de maturidade dos
filhos é compatível com sua idade e intervir sempre que necessário, delegando
mais responsabilidades, por mais que isso doa. Isso é papel dos pais, não do
filho”, diz.
Luciano, é importante, também, evitar o medo excessivo do mundo. “Sim, ele
está cheio de pessoas más, perigo e violência, mas tem pessoas boas, prazeres e
descobertas fantásticas”, afirma ele.
beirando a paranoia, de que o mundo atual é mais perigoso e de que as crianças
têm de ser mais protegidas. Só que isso está extrapolando para situações
desnecessárias, como ‘proteger’ o filho da terrível tarefa de arrumar a própria
cama, do perigosíssimo trajeto até a escola ou de enfrentar uma pavorosa fila
no banco. Se seu filho sempre tiver você para lidar com o valentão da escola,
nunca aprenderá a lidar com o valentão do escritório”, compara o
especialista.
apontado pela psicóloga Ana Paula é a dificuldade de certos pais em administrar
as mudanças típicas da adolescência. “Muitos não entendem um certo
afastamento natural que os filhos impõem e o confundem com falta de amor ou
ingratidão, passando a agir de forma superprotetora na tentativa de perpetuar
uma dependência já não mais saudável dessa relação”, fala.
pais e mães procuram a todo custo minimizar as dificuldades e responsabilidades
inerentes a um crescimento sadio. As consequências podem ser desastrosas, já
que adolescentes que crescem sem a menor noção de responsabilidade, de como se
cuidar, de como viver integralmente sem depender de terceiros que façam o
básico para sua sobrevivência, tornam-se adultos inseguros, imaturos e
dependentes.
possivelmente é leviano chamar alguém de vinte e poucos anos (ou até mais) de
folgado ou preguiçoso porque a mãe ainda esquenta seu jantar ou o pai o auxilia
nas questões bancárias. Às vezes, a ajuda nem é solicitada –são os pais que
tomam a iniciativa de fazer as coisas. A pessoa se estagnou.
incomoda porque se acomodou e não teve outra vivência”, diz Quezia.
“Mas muitos filhos também buscam manter os privilégios e regalias de uma
criança depois que crescem, e, assim, se sentem confortáveis”, completa
Luciano.
isso é a incapacidade de analisar riscos para tomar decisões acertadas e de
assumir certas responsabilidades da vida adulta (simplesmente pela falta de
experiência e habilidade para lidar com questões muitas vezes simples, mas desagradáveis,
maçantes ou embaraçosas).
controlar suas próprias vidas dificilmente serão capazes de ensinar isso a seus
filhos. A quebra do padrão precisa vir deles, que devem tomar as rédeas da
própria vida. É preciso ter em mente, sobretudo, de que o mais cômodo, no fim
das contas, nem sempre é o mais fácil.