“Antes de reduzir o desejo à lógica da castração e a arte a um quadro nosológico, é bom que se diga desde já: desejo não é festa. Não é enigmático, tampouco impossível, busca de um objeto perdido numa infância longínqua.
(…)
Dito de outra forma: o desejo não é linear!
Seus múltiplos direcionamentos, pluralidade constitutiva, permitem reconhecer tantos anseios de dureza, de territórios conhecidos, quanto a existência de linhas de fuga, de repertórios inusitados que façam a vida se expandir em novas direções.
Fala-se, então, de um desejo como máquina construtiva das variações que os encontros entre os corpos acionam, fazendo-os variar de infindáveis maneiras.
Não há desejo que não peça mais conexões, mais agenciamentos.
Retirar-se, entretanto, o desejo do reino circunspeto da falta não é o mesmo que afirmá-lo espontaneísta. Transgressor, talvez em suas linhas de fuga, mas isso já é diferente! É que em termos de desejo não há interioridade, há coletivos.
Agenciamentos constitutivos do desejo que se conectam a mais coletivos. Daí podermos dizer que não temos desejos (eles não vêm de fábrica, com acessórios infantis!); fazêmo-los e, com eles, nos fazemos singulares e construímos mundos que nos são próprios”
Das armadilhas desejantes: capturas e rupturas institucionais. Simone Paulon.