A vida não vem sem sofrimento e miséria. Se isso
fosse suficiente para determinar a procura de ajuda seria simples: psicoterapia
para todos. Não penso que seja este o caso. Há situações como
dependências químicas, disposições de personalidade e sintomas específicos para
os quais a maior dificuldade é procurar tratamento. Se o sintoma deixasse o
sujeito pedir ajuda, “meio caminho já teria sido andado”. Nesta linha a
psicoterapia só seria possível para aqueles para quem ela já não é mais
necessária.
fosse suficiente para determinar a procura de ajuda seria simples: psicoterapia
para todos. Não penso que seja este o caso. Há situações como
dependências químicas, disposições de personalidade e sintomas específicos para
os quais a maior dificuldade é procurar tratamento. Se o sintoma deixasse o
sujeito pedir ajuda, “meio caminho já teria sido andado”. Nesta linha a
psicoterapia só seria possível para aqueles para quem ela já não é mais
necessária.
Pedir ajuda é um grande sinal de
salubridade psíquica. Indica que você foi capaz de perceber e autodiagnosticar
uma forma de sofrimento. Sugere também que você entende que isto não é apenas
uma deficiência moral, uma insuficiência de sua educação ou uma ofensa ao seu
sistema de crenças. O autodiagnóstico é parte do processo de cura. O clínico
tenderá a interpretar este movimento crítico como parte de seu desejo de
transformação. Antigos filósofos já diziam que era difícil suportar a
ideia de ser “libertado pelo outro”, tanto porque isso indica passividade e
fraqueza, quanto porque seria uma liberdade falsa, obtida por meios que não são
próprios. Esta oposição entre resolver-se por si, “aceitando-se como você é”,
ou pedir ajuda e ficar dependente nas “mãos do outro” deve ser superada. Como
em tudo mais na vida, atravessamos problemas e nos tornamos autônomos com os
outros e não sem eles. Contudo, isso não explica quando um sintoma se torna
insuportável a ponto de demandar tratamento.
salubridade psíquica. Indica que você foi capaz de perceber e autodiagnosticar
uma forma de sofrimento. Sugere também que você entende que isto não é apenas
uma deficiência moral, uma insuficiência de sua educação ou uma ofensa ao seu
sistema de crenças. O autodiagnóstico é parte do processo de cura. O clínico
tenderá a interpretar este movimento crítico como parte de seu desejo de
transformação. Antigos filósofos já diziam que era difícil suportar a
ideia de ser “libertado pelo outro”, tanto porque isso indica passividade e
fraqueza, quanto porque seria uma liberdade falsa, obtida por meios que não são
próprios. Esta oposição entre resolver-se por si, “aceitando-se como você é”,
ou pedir ajuda e ficar dependente nas “mãos do outro” deve ser superada. Como
em tudo mais na vida, atravessamos problemas e nos tornamos autônomos com os
outros e não sem eles. Contudo, isso não explica quando um sintoma se torna
insuportável a ponto de demandar tratamento.
Os verdadeiros sintomas não se
definem pelo código social de condutas desejáveis, mas por duas formas
específicas de relação que mantemos com o que fazemos. Há os sintomas baseados
na forma “ter que”, definidos pela coer-citividade. Exemplo. Trabalho, como
todo mundo, todo dia, e me queixo ou me felicito nele. Isso pode ser um
sofrimento “suportável”. No entanto outra pessoa dirá: “eu tenho que” ir
trabalhar, porque se não for “algo acontecerá”, sentirei angústia extrema,
serei criticado impiedosamente pelo chefe, e assim por diante. Há aqui o
recobrimento de um “comportamento aceitável” (trabalho) por uma disposição
patológica (coerção subjetiva a).
definem pelo código social de condutas desejáveis, mas por duas formas
específicas de relação que mantemos com o que fazemos. Há os sintomas baseados
na forma “ter que”, definidos pela coer-citividade. Exemplo. Trabalho, como
todo mundo, todo dia, e me queixo ou me felicito nele. Isso pode ser um
sofrimento “suportável”. No entanto outra pessoa dirá: “eu tenho que” ir
trabalhar, porque se não for “algo acontecerá”, sentirei angústia extrema,
serei criticado impiedosamente pelo chefe, e assim por diante. Há aqui o
recobrimento de um “comportamento aceitável” (trabalho) por uma disposição
patológica (coerção subjetiva a).
A segunda família de sintomas
obedecem à gramática do “não posso com”. São situações que podem parecer
irrelevantes, ou plenamente aceitas socialmente, mas que são vividas com
sofrimento adicional. Exemplo: “não posso com baratas, com ratos, com pessoas
deste ‘tipo’, com mulheres desta ‘forma’, com perdas, com ganhos” e assim por
diante. O diagnóstico que autoriza um tratamento psicoterápico está mais atento
a esta incidência “subjetiva” do “ter que” ou do “não posso com” do que com a
norma de vida esperada para alguém ou época.
obedecem à gramática do “não posso com”. São situações que podem parecer
irrelevantes, ou plenamente aceitas socialmente, mas que são vividas com
sofrimento adicional. Exemplo: “não posso com baratas, com ratos, com pessoas
deste ‘tipo’, com mulheres desta ‘forma’, com perdas, com ganhos” e assim por
diante. O diagnóstico que autoriza um tratamento psicoterápico está mais atento
a esta incidência “subjetiva” do “ter que” ou do “não posso com” do que com a
norma de vida esperada para alguém ou época.
Ainda que únicos os sofrimentos
são igualmente trágicos e cômicos. Eles são o que as pessoas têm de melhor e também
de pior. São como obras de arte que se tornam o bem mais precioso e inarredável
de alguém, são também sua religião particular, feita de ritos, mitos, orações e
devoções. Quando temos um nome para o mal-estar, uma história para nosso
sofrimento, os sintomas revelam-se uma maneira de dizer o que não pode ser dito
por outras vias. Talvez a função do psicoterapeuta ou do psicanalista seja
parecida com a de um carteiro que pega cartas embaralhadas, as cartas de nosso
destino, e ajuda a entregar as que podem ser entregues, reenviar as que estão
sem destinatário e cuidar daquelas que ainda não foram escritas.
são igualmente trágicos e cômicos. Eles são o que as pessoas têm de melhor e também
de pior. São como obras de arte que se tornam o bem mais precioso e inarredável
de alguém, são também sua religião particular, feita de ritos, mitos, orações e
devoções. Quando temos um nome para o mal-estar, uma história para nosso
sofrimento, os sintomas revelam-se uma maneira de dizer o que não pode ser dito
por outras vias. Talvez a função do psicoterapeuta ou do psicanalista seja
parecida com a de um carteiro que pega cartas embaralhadas, as cartas de nosso
destino, e ajuda a entregar as que podem ser entregues, reenviar as que estão
sem destinatário e cuidar daquelas que ainda não foram escritas.