Reencontrando a Felicidade

Rabbit Hole (no Brasil, Reencontrando a
Felicidade) é um filme
 de  2010, estrelado
por Nicole Kidman e Aaron Eckhart,
 dirigido por John
Cameron Mitchell
, baseado na peça homônima de David
Lindsay-Abaire
. Recebeu uma indicação ao Oscar em 2011 pela atuação
de Nicole Kidman como Becca Cobert.

Nesse belo drama acompanhamos a trajetória do casal Becca e Howie na
tentativa de lidarem, cada um ao seu modo, com a abrupta morte do filho de 4
anos num acidente.

Becca se isola, procura regenerar algo de si, através do cuidado das
plantas, da casa, cozinhado, mas não suporta o contato com os outros e quando tem
um contato abrupto é vivido como invasão, como o próprio acidente.  Assim
logo na primeira cena, vemos o seu olhar desolado para a plantinha que é
esmagada, sem intencionalidade, pela vizinha que vem convidar o casal para
jantar.

Becca não consegue fazer amor com o marido, vive suas aproximações como
uma não compreensão do que está vivendo, já que tem dificuldade de comunicar
seus sentimentos, a não ser quando se sente agredida e se defende. Decorreram
oito meses que Becca e Howie  perderam o filho.

Ao longo do filme vamos compreendendo a construção do psiquismo da
personagem; a mãe auto referente sempre compara a dor de Rebecca a sua dor pela
morte do filho, Arthur, aos 30 anos por overdose há 11 anos. Becca necessita de
um espaço em que possa viver a singularidade da sua dor. A irmã de Becca com um
perfil psicológico bem diferente da irmã, mais próxima à mãe, revela uma
gravidez inesperada, de um músico que conheceu há algumas semanas, que trará a
Becca mais questões emocionais com que lidar.

O marido ao contrário tem necessidade de estar com as pessoas, retomar a
vida e ao mesmo tempo revive o filho dia após dia assistindo um pequeno vídeo
em seu celular.
Há pinturas de Danny na geladeira, o quarto esta intacto, o guarda-roupa
e todos brinquedos solitários. Becca busca ainda, sem iniciar um trabalho de
luto, se desprender das coisas do filho doando as roupas de Danny para o filho
da irmã que não aceita dizendo que seria estranho, isso se nascer menino, ver o
filho correr com as roupas que foram do sobrinho.

Um incidente dá um novo rumo a conturbada história; um dia Becca vê
dentro do ônibus o olhar absorto do introspectivo Jason.
Começa então a segui-lo até ser descoberta. Ele então pergunta o que ela
quer e começam com cuidado a tatearem o mundo um do outro. Becca com sua
sensibilidade sabe que o mundo de Jason foi transpassado pelo acidente que
causou, ele sabe da dor
que causou, há ainda  um sentimentos que ambos compartilham a
necessidade de reconstruir novos referenciais para habitar o mundo, um desafio
para o rapaz que vai para a faculdade, que irá se distanciar da mãe que mora
apenas com ele, e para a mãe que perdeu seu filho.

A cena do primeiro encontro de Becca com Jason é de uma sutileza e
sensibilidade sem subterfúgios.
Quem Becca vê em Jason? Seu filho projetado no futuro? Já que se
identifica com ele emocionalmente. Ela mesma no passado? Ela hoje, na busca por
sua travessia para uma vida onde possa viver apesar da morte do filho? Quantas
são as realidades paralelas que o filme nos apresenta?

Enquanto Becca inicia seu processo de luto, após o encontro com Jason,
Howie se perde nos meandros da carência, do desejo, não conseguindo compreender
o que se passa consigo e com a mulher, busca através de outra suprir sua
carência. Ao voltar para a casa sem a presença de Becca, ao imaginar-se
abandonado, deita-se na cama do filho em posição fetal e dorme.

Acompanhar a trajetória do casal entre encontros e desencontros é
atravessar o que, em nós, habita de humano.


Ana Amorim de Farias, 2013
Psicóloga e Psicanalista
Adultos e Casais

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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