Sobre o arrependimento

O arrependimento seria uma saída possível do ressentimento: aquele que se responsabiliza por uma escolha que redundou em fracasso ou sofrimento pode arrepender-se, sem precisar culpar ou acusar alguém pelo prejuízo. Mas o arrependimento também pode se transformar em lamento sem fim, em meio de gozo equivalente ao ressentimento. Também pode ser um modo de não aceitar as com sequencias de uma escolha , os erros e descaminhos percorridos ao longo de uma vida que nunca é perfeita. O arrependimento, em suas formas extremas , também sinaliza um recusa narcisista da determinação inconsciente. Só quem se julga inteiramente senhor de todos os seus atos não se perdoa por uma má escolha.
Neste sentido, vale tomar  o ensaio de Michael Montaigne sobre o arrependimento, em que esse pensador  que levou os últimos anos da sua vida a examinar-se o mais honestamente possível afirma que não se arrepende de nada porque não se pretende infalível. 

                              “Expliquemos aqui o que repito constantemente: só de raro em raro
me arrependo, e minha consciência contenta-se com seu próprio testemunho, não o
de uma consciência de anjo ou animal, mas uma consciência humana
(…) não se trata aqui de simples palavrório e sim de um ato de
humildade completa e absoluta.”



(Maria Rita Kehl, Ressentimento. Coleção Clínica Psicanalítica. Ed Casa do Psicólogo, São. São Paulo, 2004. p. 23.)

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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