Terapia de Casal – Discussões x Harmonia

 

Há muitos estudos sobre as diferenças entre os homens e as mulheres. Temos ainda os ditos populares que versam sobre a singularidade de cada gênero.

A Psicanálise contemporânea busca a compreensão de como a diferença anatômica entre os sexos afeta a constituição psíquica de cada experiência humana. Entretanto, entende que o fator biológico não é determinante da mesma. Por isso, estuda de que maneira as diferenças dos corpos e a diferença do discurso na cultura sobre esses afetará as fantasias e as representações psíquicas na constituição dos sujeitos. Nosso corpo e a concepção de gênero participam da nossa constituição psíquica a partir das experiências sensoriais, das percepções que temos desse corpo, do modo como somos vistos e nomeados desde o nascimento.

As representações culturais, a linguagem, o que é dito sobre o que é ser homem e o que é ser mulher formam as concepções dos gêneros e diferentes formações em nosso psiquismo das representações do feminino e do masculino. Tanto que as mulheres e os homens, na atualidade, buscam outras formas de realizarem seus desejos e de se apresentarem ao mundo, diferentes das formas conhecidas nos séculos que nos antecederam.

Infelizmente, por séculos, um enorme hiato entre essas experiências humanas criou estereótipos.  Embora a mulher tenha entrado no terreno considerado masculino e o homem tenha buscado estar mais próximo das mulheres em terrenos antes considerados apenas da ordem do feminino, ainda há entre eles abismos e dificuldades enormes na comunicação. As diferenças começam a ser relativizadas por ambos, mas ainda se tornam  motivo de sofrimento no encontro ou até mesmo impedem desse acontecer.

Uma diferença que frequenta a Terapia de Casal e é motivo de discussão dentro dos casais é a forma de expressarem suas necessidades, desejos e sentimentos. Os rótulos que mascaram defesas inconscientes e o desconhecimento do homem acerca da mulher e do mulher em relação ao homem contribuem para os desencontros. De tal forma, que uma discussão pode iniciar por um desconhecimento acerca da vivência do outro e/ou da linguagem desse e crescer num espiral. Ou ainda, uma briga começa por um motivo corriqueiro e aparentemente tolo e desemboca em inúmeras acusações acerca das diferenças de como lidam com o desejo sexual, o dinheiro, com a criação dos  filhos, com a organização da casa, ou sobre quem decide os finais de semana. Cada um  sentindo-se negligenciado pelo(a) parceiro(a); sabotado; manipulado; submetido e desrespeitado em seu desejo.

As questões importantes são: Como reagimos ao nosso (a) parceiro (a) quando não nos sentimos mais  amados como antes? Ao sentirmos que não temos mais a mesma atenção da pessoa querida? O que fazemos em relação a isso? Qual nossa reação quando nosso (a) namorado (a) ou cônjuge não parece mais atento (a) às nossas necessidades afetivas como precisamos, num determinado momento ou mesmo há um longo tempo? Como reagimos ao sentirmos que ele (a) deixa de estar “presente”, ainda estando ao lado?

Muitas vezes o que podemos observar é que os homens  tornam-se agressivos, se isolam  e distanciam-se das parceiras. Enquanto as mulheres se queixam, clamam por atenção e tornam-se desconfiadas e críticas. Mas, igualmente o que  vemos são  pessoas desamparadas que reagem  ou se fecham por estarem zangadas, partindo depois para agressões mútuas.

Neste ponto, cabe frisar, que  essas espirais de discussões ocorrem entre todos os casais independente da sua composição. Circunscrevi a particularidade dos casais heterossexuais devido aos estereótipos criados, assim como, comportamento e sentimentos que são permitidos e outros não permitidos para cada gênero, aumentando ainda mais a possibilidade desencontro de línguas por estas diferenças para além das diferenças por serem duas pessoas, dois mundos distintos, portanto.

Por trás de inúmeras discussões o que não percebem, porque já não estão conseguindo ouvir, cada um ocupado em se defender do ataque do outro, é que ambos da mesma forma  desejam cuidado! Ambos estão machucados, porque em algum ponto descuidaram da relação, deixaram de se olhar, ou se assustaram com algo que viram e recuaram para ataques e defesas. O que reivindicam é atenção.

Homens e mulheres têm algumas  percepções diferentes, devido a toda carga sociocultural de papeis.  Entre essas diferenças uma das principais é a forma de expressar suas necessidades, desejos e sentimentos. Mas as necessidades e desejos humanos são iguais: de sermos amados e cuidados, de termos atenção e sermos ouvidos.

Na Terapia de Casal  o psicólogo/psicanalista através da experiência, conhecimento e tato poderá ouvir e traduzir para o casal, para cada um, o que o outro diz, o que está sendo ouvido a partir de uma distorção, devido a necessidade que cada um criou de se defender do outro e que não permite mais a escuta.  O que se ouve é sempre o mesmo a partir dos medos ligados à história de vida de cada um, incluindo infância e antigos relacionamentos.

Para concluir vale a pena lembrar algumas necessidades para uma relação caminhar bem amorosamente.

Ouvir o pedido ou queixa do outro: Ouvir reclamações, críticas e ouvir reivindicações é uma das partes mais difíceis do relacionamento, pois  atinge nosso narcisismo. O que ocorre principalmente se ouvimos como uma insatisfação direta em relação ao que somos. Absolutamente não é interessante se relacionar com alguém que não nos ama pelo que somos, mas muitas vezes o outro esta revelando um medo ou necessidade em código cifrado. Importante fazermos a seguintes perguntas: “Por que isso te incomoda?” “Desde quanto sente isso”? “Por que pensou isso”.   “O que pensa que poderíamos fazer quanto a isso”. Analise o porque o que o outro fez ou disse foi tão ofensivo para você. Esteja disponível a ouvir. É bem mais saudável que “È coisa da sua cabeça”. “Você  está louco(a)” ou ” E você que faz muito pior…”

Responda sempre: Não deixe de responder ao gesto do outro, desde uma mensagem no whatsapp  até um pedido que exigiria uma reestruturação na vida de ambos. Se não pode responder agora anuncie que irá responder mais tarde. Até os empresas e instituições tem gravações que anunciam quantos minutos devemos aguardar. Aguardar causa ansiedade, remete ao abandono, ao desprezo, à falta de cuidado e de atenção. Some isso ao longo de anos. O medo de evitar discussões as adia e aumenta.  Vale escolher o momento certo, mas não deixar o outro sem saber o que esta acontecendo.

Mantenham o casal: Não permitam que os amigos, a família, o trabalho “invadam” seu relacionamento ou sejam tenham vida paralela que aos poucos reduz tanto o tempo com seu parceiro(a) que vocês se tornam apenas duas pessoas vivendo juntas ou  estão juntos  enquanto pais ou na família. Preservem o casal.

Tocar, mostrar afeto, dar as mãos ao andar na ruas, relembrar bons momentos, dizer EU TE AMO!!!

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

Compartilhe

Facebook
WhatsApp
E-mail