Terapia de Casal e a Psicanálise – Ana Amorim de Farias

 

São inúmeros os fatores inconscientes e conscientes que causam constantes brigas e desarmonia entre um casal.

Neste artigo vou circunscrever um dos fatores que frequentemente resulta em discussões: a não aceitação da crítica do(a) parceiro(a) ou do que é ouvido como crítica, ainda que não o seja. Isso tanto quando a fala se refere a algo que é sentido como uma limitação de um dos pares, bem como quando uma insatisfação é sentida por algo que o outro disse ou fez.

O que frequentemente ocorre na sequência são acusações recíprocas, impropérios, um buscando mostrar ao(à) parceiro(a) que ele ou ela fez ou faz algo bem pior. Quando isso ocorre, há uma quebra na comunicação, ambos tentando se defender a partir do ataque.

Ter a possibilidade de comunicar ao outro algo que desagrada ou fere é essencial para qualquer relação. Quando isso nunca ocorre ou, pelo contrário, acontece frequentemente, significa que a relação precisa ser revisitada. 

As brigas constantes afetam a vida do casal, muitas vezes, deteriorando o sentimento amoroso e podem ocasionar o término da relação. 

Desentendimentos frequentes podem ainda resultar do que foi calado ou dito e não ouvido pelo outro. Expor seus receios, descontentamentos e falar o que desagrada na relação e não ser considerado(a) ou ser ridicularizado(a) fere profundamente. Isso remete a vivências infantis, porque toda e qualquer criança, em algum momento, não foi ouvida pelos adultos. 

A partir dessas vivências rancorosas e dolorosas dentro do casal, as seguintes perguntas poderão vir à mente: “Se o outro me ama, mas não me compreende e/ou não me aceita como sou, a quem ele ama? Uma imagem construída, aquele que gostaria que eu fosse?”  O amor começa a ser questionado.

Todas essas vivências negativas podem fazer com que um dos pares veja o(a) parceiro(a) como um(a) adversário(a), alguém de quem deve se defender.

A questão é que, para a maioria de nós, é difícil ouvir do outro o que pode soar como uma crítica.

A Psicanálise e a compreensão das relações entre Casais 

A Psicanálise vai  muito além  do estudo  dos comportamentos e pensamentos vivenciados conscientemente. Ela pesquisa e analisa como nosso registro inconsciente e o que temos internalizado como presença afetiva boa ou não  dentro de nós influenciará nossas relações posteriores. Desde que nascemos, vamos construindo nossas marcas primitivas a depender de como fomos recebidos, como foi nossa relação com nossos cuidadores e quais fantasias inconscientes desenvolvemos a partir dessas relações.

A agressividade é inerente ao humano, e a rejeição à crítica está ligada ao nosso desejo de agradar, de ser amados. E aquele a quem amamos é a pessoa pela qual mais queremos ser apreciados.

É importante entender nossas emoções, sentimentos e nos aprofundar nas questões de natureza inconsciente. É difícil aceitar que não somos de todo amáveis. Isso porque, quando bebês e crianças,  desejamos ardentemente ser de todo amados, de todo aceitos. Naturalmente, pais saudáveis e em situações relativamente estáveis conseguem  amar seus filhos incluindo os defeitos desses, mas isso não quer dizer que amam seus defeitos. Começam as frustrações, o bebê não pode ser tudo, nem é tudo para seus pais, já que é plenamente saudável que os cuidadores tenham outros interesses. Mas, se os responsáveis pela criança excederem na frustração, privando-a de afeto, de cuidados, sendo violentos, críticos ao extremo, ou ainda, não permitindo que a criança tenha espaço para frustra-se e dando contorno a essas frustrações, teremos adultos com muitas dificuldades no relacionar-se.  É fundamental, ainda, que os pais não depositem em seus filhos anseios seus insatisfeitos e que permitam que os filhos sejam autênticos a partir de suas singularidades.  São condições que os cuidadores têm ou não em si antes de o bebê nascer, e outras que constroem na relação com ele, e isso não é de todo fácil. Há cuidadores que abandonam, que são exigentes ao extremo, críticos, e outros que, ao contrário, são muito permissivos e eternizam a ilusão de que os filhos são perfeitos. Toda essa gama de vivências, cada parceiro(a)  traz dentro de si para a relação com seu par. 

A Psicanálise entende que nascemos incompletos, sem a mínima condição de sobreviver sem que um outro  cuide de nós. É nessa primeira relação, em que  nossa vida depende totalmente daqueles que cuidam de nós, que aprendemos a amar. A experiência de dependência de amor e cuidados da infância deixa suas marcas. Dependendo se essas marcas são saudáveis ou patológicas, estamos mais ou menos capacitados a nos relacionar. Digo: nos relacionar de forma saudável, sem desejar submeter o outro à nossa verdade ou nos submeter à verdade do outro. E isso tudo é inconsciente, na sua maior parte.

A Psicoterapia Psicanalítica de Casal 

É importante que o casal procure a ajuda de um psicanalista para fazer Psicoterapia de Casal diante das dificuldades expostas.

Nossas escolhas amorosas são afetadas por nossa história, pelo ambiente e pelo inconsciente. Dentro da abordagem psicanalítica, a Terapia de Casal considera todos esses aspectos ao trabalhar a relação do par dentro do setting terapêutico.

O foco do trabalho do analista é a relação. O psicanalista fará uma leitura da bagagem da família de origem que cada par traz para a relação, da história que o casal vem construindo, se sempre tiveram as dificuldades que os incomodam hoje ou se algo desencadeou essas dificuldades. Construindo associações, intersecções, o casal poderá traduzir entre si o que está acontecendo e (re)construir novas formas de se comunicarem e olharem para a relação.

Criando formas de negociação, a possibilidade de ceder pelo desejo de fazê-lo, e não por necessidade ou medo.  A possibilidade de aceitar que o outro me ama, mas irá se desagradar em relação a certas atitudes ou dizeres meus, e isso não precisa vir como crítica. Poder lidar com isso é imprescindível em uma relação.

A maior qualidade do humano é a capacidade de se relacionar em uma relação de reciprocidade que inclui ternura, compreensão e cuidados com um outro. Sinal de saúde emocional que reflete no físico, promove crescimento emocional, amadurecimento. Entendo por essas palavras a possibilidade de se confrontar com seus defeitos e os do outro.  Ter a possibilidade de reconhecer o que não lhe agrada em si mesmo e escolher o que é possível e desejável transformar. E ainda aceitar que, às vezes, o outro ficará insatisfeito, que irá comunicar isso, e você terá que viver com essa realidade. Afinal, nem tudo que faz irá agradar aquele que você ama.

Difícil, não? Mas, possível a todos que se abrirem para a possibilidade do questionamento e tiverem o desejo de mudanças reais em si e na relação.

Ana Amorim de Farias, 2012
Psicóloga e Psicanalista
Adultos e Casais

 

Psicóloga Ana Amorim de Farias

CRP 06/39859-9

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